Análise
por EDULOG
22 de maio de 2019 |
Mais de 50% dos empregos em que é difícil encontrar candidatos encontram-se em posições altamente qualificadas que podem ser cargos de direção ou de elevado nível de competência, nos setores da saúde, ensino e tecnologias.
Grande parte da escassez ocupacional, aproximadamente 39% do total de empregos que são difíceis de preencher nos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), encontra-se também em cargos de qualificações médias. Faltam trabalhadores nos serviços pessoais, categoria onde se incluem empregos na hotelaria, restauração, turismo e lazer, cuidados de beleza, desporto serviços ao domicílio e no comércio eletrónico.
Por último, menos de um em cada dez empregos onde faltam candidatos, em toda a OCDE, encontram-se em posições que requerem pouca qualificação.
O cenário repete-se em Portugal, com pequenos ajustes. Entre os empregos em que se regista uma escassez ocupacional, 51% dizem respeito a cargos que requerem qualificação elevada, 48,9% a cargos de qualificação média. Significa isto que não há escassez em empregos de pouca qualificação.
“Globalização, progresso tecnológico e mudanças demográficas estão a ter um impacto profundo no mundo do trabalho. Estas megatendências afetam o número e a qualidade dos empregos disponíveis, mas também o modo como são desempenhados e as competências que os trabalhadores vão precisar no futuro", adverte a OCDE no recente relatório "Society at a Glance 2019", que analisa as principais tendências sociais da última década.
Mudam-se os empregos, muda-se também o tipo de competências procuradas pelos empregadores. Esta tendência é visível na "Skills for Jobs", uma base de dados que mostra quais as competências em escassez ou excesso no mercado de trabalho. Entre 2004 e 2014, a escassez de competências cognitivas de alto nível aumentou, enquanto a procura por competências físicas e rotineiras diminuiu em relação à oferta. Expressão oral e escrita, fluência de ideias, raciocínio dedutivo e indutivo, originalidade são exemplos de competências cognitivas bastante procuradas e difíceis de encontrar.
Dados de 2012, do relatório “Survey of Adult Skills” (sigla inglesa PIAAC), mostram que, em média, 14% dos empregos na OCDE estavam em risco de automatização. A digitalização tem reduzido a procura de trabalhos rotineiros e manuais. Competências físicas como força, resistência ou estabilidade de mão e braço - usadas em ocupações que estão em risco de serem automatizadas por máquinas mais precisas - registaram os maiores declínios ao nível da procura na última década.
A má alocação de talentos no mercado de trabalho leva à desadequação de qualificações. Ou seja, faz com que os trabalhadores possam ter qualificações a mais ou a menos para o exercício da sua profissão. Em média, na OCDE, cerca de 36% dos trabalhadores têm qualificações desadequadas ao trabalho que desempenham: 17% estão sobrequalificados, 19% subqualificados.
Juntamente com o México, Chile, Irlanda, Grécia, Turquia, Espanha e o Reino Unido, Portugal integra o grupo de oito países onde a desadequação de qualificações face ao cargo é mais acentuada entre os membros da OCDE, registando valores acima dos 40%. Cerca de 42,1% dos trabalhadores portugueses estão nessa situação: 24% têm qualificações a mais em relação às funções que desempenham e 18% têm qualificações a menos.
A dimensão da desadequação varia substancialmente de um país para outro, lê-se no relatório da OCDE. No México (38%) e no Chile (30%) é grande o número de trabalhadores com qualificações a mais para o trabalho que exercem. Na República Checa, do total de trabalhadores com qualificações desadequadas (17,2%) apenas 9% são sobrequalificados.
“A prevalência de ambos os tipos de desadequação acontece tanto por oferta insuficiente de qualificações (o que faz com que a subqualificação surja em algumas partes do mercado de trabalho) como por fraca procura de qualificações (o que origina o aparecimento da sobrequalificação)”, salienta a OCDE.