Análise
por Andreia Lobo
31 de maio de 2023 |
Em Portugal, os professores iniciaram uma série de greves para chamar a atenção do Governo para a necessidade de valorizar a profissão. Não foram os únicos. Em vários países da Europa, e fora dela, milhares de profissionais da educação onde, além dos professores, se incluem diretores das escolas e funcionários têm saído às ruas em protesto. Evitaram o pandemónio com o ensino à distância, equilibram orçamentos aquém das necessidades e contribuem para o funcionamento da máquina educativa. Razões mais do que suficientes, argumentam, para exigirem melhores salários e mais investimento nas escolas públicas.
À base da greve
A 1 de fevereiro, uma manifestação juntou centenas de professores e diretores de escola, num protesto pelas ruas de Londres. Em Inglaterra, as escolas encerraram por vários dias de greves, em fevereiro, março e abril. Depois de os professores terem recusado, em março, a proposta da secretária de educação, Gillian Keegan, de um pagamento único de £ 1.000 e um aumento salarial de 4,5%, a partir de setembro. O jornal The Guardian justificava a rejeição com a insistência do Governo em retirar o aumento salarial dos orçamentos das escolas sem garantir a “adequação do financiamento” para o efeito. Há três greves anunciadas para final de junho ou início de julho, altura em que se realizam os exames nacionais.
Correram mal, em França, as sucessivas reuniões entre Ministério da Educação e professores, para negociar os aumentos salariais. Várias organizações sindicais abandonaram a mesa de conversações, desde janeiro, acusando a tutela de fazer depender os aumentos da aceitação de novas tarefas, como apoios educativos aos alunos do 6.º ano, nas disciplinas de matemática e francês, e substituições de professores de curto prazo. A tutela propôs um aumento salarial de 3.750 euros brutos, por ano, repartido em pacotes de 1.250 euros. Os professores reclamam por aumentos “incondicionais”. Estimam que a carga acrescida de tarefas represente mais 72 horas de trabalho anual.
Vitórias sem festejos
No País de Gales, bastou uma greve massiva, a 2 de março, e a iminência de mais duas greves (a 15 e 16 de março), todas convocadas pelo National Education Union, para o Governo ceder em matéria salarial. A 9 de março, o ministro da Educação e Língua Galesa, Jeremy Miles, comprometia-se a um pagamento adicional aos professores de 3% este ano letivo (2022/2023). O aumento é composto por um prémio consolidado de 1,5% e mais 1,5% não consolidado. A oferta também inclui um reajuste salarial de 5%, pago a partir de setembro de 2023. O ministro garantiu ainda que o aumento será totalmente financiado pelo governo galês.
Foi preciso um ano de protestos para que os professores do ensino básico e secundário da Escócia tivessem conseguido um acordo descrito como “histórico” pela secretária de educação, Shirley-Anne Somerville. As negociações, iniciadas sob o slogan “Pay Attention”, falharam por diversas vezes. A vitória alcançada não teve festejos. Em declarações à BBC, vários docentes lamentaram terem sido forçados a levar a luta ao extremo - com o reconhecido prejuízo causado aos alunos. Contas feitas, conseguiram um aumento salarial de 7%, com retroativos de 1 de abril do ano passado, outro aumento de 5% a partir de 1 de abril deste ano, e um de 2% a partir de 1 de janeiro de 2024.
Alargam-se os protestos
À contestação dos professores têm-se juntado os de outros profissionais cujas funções são vitais para o funcionamento das escolas. Apesar do acordo alcançado para os professores, no País de Gales, os diretores das escolas estão em protesto, desde 1 de fevereiro, por mais financiamento. Não fazem greves, mas recusam-se a comparecer a reuniões noturnas, respondem apenas a ligações e emails das 09:00 às 15:00 e não participam das avaliações do corpo docente.
No Distrito Escolas de Los Angeles, o maior dos EUA, há três anos que os funcionários escolares reclamam por um novo contrato coletivo de trabalho e aumentos salariais. Motoristas, vigilantes, zeladores, auxiliares de educação especial e funcionários do refeitório, entre outros, - cujo trabalho é essencial para o funcionamento das escolas - cumpriram três dias em greve, em março. Deixaram sem aulas 420 mil alunos menores. Ganham em média menos de 10 dólares por hora.
Também a 25 de janeiro uma greve de professores fechou 64% das escolas públicas da Catalunha, região autónoma de Espanha. Mais de 15 mil professores e médicos juntaram-se para denunciar “a situação limite” em que se encontram ambos os serviços públicos e exigir do Governo uma “intervenção para evitar o colapso”, noticiava a RTVE. Os professores querem mais colocações nas escolas e um investimento de mais de 6% do PIB catalão em educação.
Na Irlanda do Norte, a greve de 26 de abril, convocada pelos sindicatos de professores, juntou pela primeira vez, em 125 anos de existência, a National Association of Head Teachers. Em causa estão questões salariais mas não só, como explicou à BBC o presidente da associação, Liam McGuckin. “Chegamos ao último fragmento da nossa paciência com um sistema que está a falhar com as escolas, com os profissionais e, mais importante, com os jovens.”