Análise
por EDULOG
12 de novembro de 2020 |
A transição dos alunos dos cursos profissionais para o ensino superior recebeu, no último ano, especial destaque em Portugal com a criação de um concurso especial de acesso para os candidatos provenientes desta oferta educativa.
O prosseguimento de estudos não é contudo a prioridade para a maioria dos alunos, como explica Isabel Ribeiro, no webinar “Ensino Profissional e a transição para o ensino superior”, promovido pelo EDULOG, no âmbito do projeto +PRO - Medir, articular e valorizar o Ensino Profissional em Portugal, desenvolvido pela Universidade de Aveiro. “O objetivo número um é ter formação que lhe permita entrar no mercado de trabalho”, afirma a responsável pela área de integração da Escola Profissional de Aveiro, traçando o perfil do típico aluno do profissional: “É alguém que não gosta do modelo de aulas do ensino regular, que gosta do mãos na massa.”
A pensar neste perfil, universidades e politécnicos trabalham numa maior aproximação ao mercado de trabalho, dizem as especialistas. Por outro lado, refere Isabel Ribeiro, as escolas “devem ter em conta a longevidade da vida laboral” e promover metodologias para que os alunos se interessem pelo conhecimento.
Quando a opção é continuar a estudar, depois do 12.º ano, os cursos técnicos superiores profissionais (TeSP) no ensino politécnico “são a oferta que os jovens procuram”, garante Carmem Guimarães. “A empregabilidade dos TeSP é um fator de atratividade”, diz a professora da Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologias da Produção de Aveiro-Norte, salientando que “muitos alunos procuram os cursos numa fase mais tardia e não logo à saída do ensino secundário profissional”. O problema, adianta, é que “em cursos com vertente prática não há oferta suficiente”, ou seja, “não há capacidade de resposta por parte das instituições face à procura”.
Até agora, se o aluno do ensino profissional pretendia entrar numa universidade tinha de concorrer ao concurso nacional de acesso, fazer os exames nacionais e competir por uma vaga com alunos provenientes dos cursos científico-humanísticos, que se destinam ao prosseguimento de estudos. Ora, esta situação, recorda Carmem Guimarães, fazia com que estes alunos tivessem de prestar provas em áreas do conhecimento cujos conteúdos não faziam parte dos cursos profissionais que tinham frequentado.
A criação do concurso especial de acesso ao ensino superior para alunos dos cursos profissionais trouxe mais equidade. Esta nova via permitiu aos alunos do ensino profissional, cursos de aprendizagem e cursos artísticos de dupla certificação, entre outros, candidatar-se no ano letivo 2020/2021 a qualquer licenciatura ou mestrado integrado. Isto, dependendo das vagas disponibilizadas pelas instituições de ensino superior para as candidaturas através deste concurso.
Carmem Guimarães reconhece que a oferta formativa no ensino superior politécnico e universitário “é vasta”, razão pela qual aconselha os alunos a terem em conta essa mesma diversidade. “Alunos que não gostam tanto da escola tradicional, não terão tanto interesse numa licenciatura ou mestrado integrado.” Pelo contrário, a componente de estágio é mais forte num curso TeSP, diz a docente. “O ensino baseado em projeto, as dinâmicas criadas com docentes oriundos da indústria, tornam este tipo de ensino mais atrativo para este público.”
Mas há uma série de fatores que condicionam a transição do ensino profissional para o ensino superior. Desde logo, reflete a professora da Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologias da Produção de Aveiro-Norte, um fator preponderante é o horário em que o curso é oferecido. “Muitos dos alunos trabalham por turnos, mas as aulas não param.” E, apesar do “elevado compromisso” e a “forte motivação” que a docente reconhece a estes alunos, “o abandono é significativo”.