- Resulta evidente do estudo que não se deve presumir que a manutenção do professor ao longo de cada ciclo de ensino é necessariamente benéfica. Isto significa que o princípio da “continuidade pedagógica” não é um valor absoluto, não trazendo necessariamente impactos positivos no desempenho dos alunos. Assim, recomenda-se que a manutenção de um mesmo professor ao longo de um ciclo não seja, por si só, um critério na distribuição de professores-turmas.
- A distribuição do serviço docente deve ser feita em função das características dos professores e não apenas, por exemplo, em função da antiguidade na carreira ou da experiência.
- Embora não se possa concluir, dos resultados do estudo, qual a melhor estratégia que deve ser seguida na atribuição professor-turma, recomenda-se que, para esta distribuição, se considerem também outras opções de gestão que poderão contribuir para melhorar o desempenho de professores com um VAP menor, como uma redução da dispersão disciplinar ou uma menor variabilidade de ano para ano nos anos escolares lecionados.
- Na probabilidade de o aluno obter uma nota positiva, o professor de final de ciclo tem mais impacto no desempenho do aluno na prova/exame final de 6º, 9º ou 12º ano. Já na probabilidade de o aluno ter uma nota elevada, o contributo dos professores nos diferentes anos do ciclo é mais equilibrado. Recomenda-se, por isso, o aprofundamento da investigação com vista averiguar se não será vantajoso para a aprendizagem evitar a atribuição de professores com baixo VAP nos anos finais de ciclo, isto é, nos anos de transição do percurso escolar.
- Se todos os professores que estivessem no percentil 10 passassem a ter um efeito na aprendizagem dos seus alunos semelhante ao dos professores do percentil 90, verificar-se-ia, para todos os níveis de ensino e disciplinas analisados, uma redução significativa na percentagem de alunos com nota negativa e um aumento da percentagem de notas de nível 5. Sabendo-se isso, será desejável criar-se condições de formação e supervisão dos professores com um VAP mais baixo. O trabalho colaborativo e a formação contínua serão estratégias importantes na melhoria do desempenho do professor, asseguradas precisamente pelos bons professores.
- Com os dados obtidos foi possível produzir mapas de Portugal Continental relativos às diferenças de Valor Acrescentado por NUTS 3. Destaca-se aqui o problema de se perceber até que ponto o atual sistema de recrutamento e colocação de professores poderá estar a provocar desiguais oportunidades de aprendizagem entre os alunos residentes em territórios periféricos ou em territórios socialmente segregados. Justifica-se, por isso, uma análise mais aprofundada dos dados com vista à conceção de uma estratégia de intervenção regional ou local que permita corrigir e atingir um maior equilíbrio a nível nacional.
- As bases de dados utilizadas neste estudo não permitiram comparar diferentes formações de professores, nomeadamente aqueles que concluíram licenciaturas de via ensino ou outras, ou até das instituições de ensino superior onde obtiveram a sua formação. Será, por isso, também relevante uma análise da "formação inicial dos professores", recomendando-se, por isso, o desenvolvimento de novas linhas de investigação que permitam identificar elementos curriculares, por curso e instituição de ensino, que contribuam positivamente para o futuro Valor Acrescentado do Professor.
- Sugere-se também investigação complementar com vista a avaliar-se o eventual efeito do percurso profissional dos professores no seu desempenho e de que forma as suas circunstâncias e experiência/vivência profissional podem contribuir para se tornar num professor de VAP alto ou baixo.
- Recomenda-se ainda análise e debate com vista a avaliar-se o sistema de recrutamento de professores, indução profissional, colocação e progressão na carreira. Os resultados de tal avaliação poderão ser muito relevantes para as decisões políticas sobre o que devem ser os requisitos para o acesso e a progressão relativamente à carreira docente.
Nota:
Com os dados obtidos foi possível produzir mapas de Portugal Continental relativos às diferenças de Valor Acrescentado por NUTS III às disciplinas de Português e de Matemática dos 2.º ciclo, 3.º ciclo e ensino secundário. Analisou-se o impacto, por região, se todos os professores que estão no percentil 10 passassem a ter um efeito na aprendizagem dos seus alunos semelhante ao dos professores do percentil 90. Calculou-se, então, a probabilidade de alunos com negativa passarem a ter nota positiva, nota média ou nota alta à disciplina. Esta informação está disponível no EDUSTAT - Observatório da Educação.