Análise
por EDULOG
10 de novembro de 2017 |
As crianças recebem o primeiro telemóvel, sem ser smartponhe, aos 9 anos e o primeiro smartphone aos 12 anos. Dados de 2014 mostram que, em média, é assim nos sete países que participam neste estudo. Em Portugal acontece o mesmo. Mas ter um smartphone no bolso não significa estar sempre “ligado”. Pelo menos é o que apontam as respostas das 3500 crianças e jovens entre os 9 e os 16 anos ouvidos no estudo europeu “Net Children Go Mobile”.
Se é verdade que 31% das crianças entre os 9 e os 12 anos tem um smartphone, o facto é que apenas 25% diz aos investigadores que o usa todos os dias para aceder à Internet. Quando a idade aumenta, a posse e o uso crescem. Assim se entende que, entre os 13 e os 16 anos, 60% dos inquiridos tenha um smartphone e 56% confirme que todos os dias está online. Os dados recolhidos em Portugal mostram que 34% dos inquiridos eram donos de um smartphone.
Quem utiliza o smartphone, por comparação a quem não o faz, envolve-se mais ou menos em atividades online? É a grande questão. Para encontrar a resposta os investigadores listaram 25 atividades, como ouvir música, visitar o seu perfil social, procurar informação, usar a Internet para fazer os trabalhos para a escola, fazer download ou ver online vídeos e filmes, publicar mensagens em blogs, ver mapas e horários, usar a câmara, ler livros, criar avatares ou comprar aplicações. Depois, pediram às crianças e aos jovens – utilizadores e não utilizadores de smartphones - que elegessem aquelas atividades em que se envolviam diariamente.
De modo geral, seja qual for a idade, quem utiliza um dispositivo móvel envolve-se mais em cada uma das atividades. A diferença é o dobro, na maior parte delas. Mas as grandes diferenças surgem nas atividades ligadas à comunicação e ao entretenimento.
Assim, visitar o perfil na rede social é prática diária para 53% e 87% dos utilizadores de smartphone e para 19% e 59% dos não utilizadores, nas idades dos 9-12 anos e dos 13-16 anos, respetivamente; enviar mensagens instantâneas é referido respetivamente por 43% e 73% dos inquiridos mais novos e mais velhos que usam smartphone e por 15% e 40% dos que não usam.
Ouvir música é o que fazem 57% e 81% dos utilizadores de smartphone contra 29% e 51% dos não utilizadores, com idades entre os 9-12 anos e os 13 e 16 anos, respetivamente. Ver videoclips é prática para 56% e 74% das crianças e dos jovens que utilizam smartphone e, respetivamente, para 33% e 55% dos que não usam.
“Sem surpresas”, explicam Giovanna Mascheroni e Kjartan Ólafsson, autores do estudo, “as crianças e os jovens que usam smartphones para aceder à Internet, comparativamente aos que não usam, envolvem-se mais em atividades geralmente associadas à convergência mediática suscitada pelos dispositivos móveis”. Como, por exemplo, fazer o descarregamento de aplicações gratuitas. É o que fazem 29% e 37% dos inquiridos – dos 9-12 anos e dos 13 aos 16 anos - que se dizem utilizadores de smartphones, mas apenas 7% e 12% dos não utilizadores nas mesmas faixas etárias. Ou registar a sua localização geográfica, prática de 11% e 16% dos inquiridos que usam smartphone contra 2% e 10% dos que não usam.
As crianças e os jovens que usam smartphones também recorrem diariamente mais à Internet. Utilizando-a para fazer os trabalhos da escola: 28% e 48% contra 13% e 29% dos não utilizadores. E também para pesquisar informação para satisfazer a curiosidade: 29% e 48% contra 13% e 29% dos mais novos e mais velhos que não usam smartphone.
Já a criação de personagens e avatares (4%), a leitura de ebooks (3%), a compra de aplicações (2%) e as compras online (2%) são das atividades menos praticas pelos dois grupos etários, sejam utilizadores ou não de smartphones.
Os resultados, alertam os investigadores, não permitem concluir que as crianças e os jovens utilizadores de smartphones realizam estas atividades essencialmente ou exclusivamente nestes dispositivos. Que leitura fazer dos dados? “Podemos concluir que os participantes que também usam o smartphone para aceder à Internet têm mais probabilidade de realizar atividades online numa base diária e têm a Internet mais incorporada no seu dia-a-dia”.
“Por outras palavras, a conetividade em qualquer sítio e a qualquer hora e a privacidade possibilitada pelos smartphones está associada à intensidade e à qualidade das experiências online das crianças e dos jovens”, lê-se no relatório.
A auto-confiança das crianças e dos jovens nos seus conhecimentos e no que sabem ou não fazer é um indicador do grau de literacia digital em que se encontram. De acordo com o relatório “Net Children Go Mobilie”, 54% dos inquiridos entre os 9 e os 16 anos responde que “é muito verdade” saberem muitas coisas sobre smartphones; 58% acredita saber mais até do que os seus pais. A descoberta sugere, segundo os investigadores, que o fosso geracional é maior na utilização de smartphones do que em relação ao uso de outros dispositivos.
Para identificar as competências dos participantes, os investigadores colocaram a pergunta: “Qual destas coisas sabes fazer?” Pedindo-lhes que se posicionassem face a três competências consideradas básicas pelos especialistas em literacia digital. Dizer se sabiam mudar as preferências, marcar um website e comparar diferentes websites para decidir que informação é verdadeira.
No grupo dos 9 aos 12 anos, 64% dos inquiridos que usam smartphone e apenas 37% dos que não usam são capazes de adicionar uma página aos favoritos; 39% contra 25% comparam informação para decidir qual é a verdadeira e 19% contra 14% são capazes de mudar as preferências.
As respostas do grupo dos 13 aos 16 anos mostram bem as diferenças relativas ao domínio destas três competências, entre os que usam e não usam smartphone: 86% e 63% é capaz de marcar uma página nos favoritos, 75% contra 58% compara informação para averiguar qual é verdade e 53% contra 36% é capaz de mudar as preferências.
Os investigadores fizeram a mesma análise aos conhecimentos e saberes de utilizadores de outros dispositivos. E chegaram a conclusões que permitem, por exemplo, dizer que as diferenças de competências entre crianças e jovens que usam e não usam smartphones são mais evidentes do que as diferenças de competências entre utilizadores e não utilizadores de tablets.
A forma como as crianças e os jovens lidam com os perigos da navegação no mundo dos três “W” é sempre uma preocupação para pais e professores. Por isso, os investigadores quiserem também perceber qual o domínio das competências ligadas à segurança na Internet. De novo, as diferenças são consideráveis entre os inquiridos dos 9 aos 12 anos e dos 13 aos 16 anos que usam e não usam smartphone.
Nos mais novos, 58% de inquiridos que usam smartphone contra 29% que não usam sabem bloquear mensagens de quem não as queiram receber; 43% contra 21% conseguem bloquear pop-ups, 53% contra 25% sabem mudar as definições de privacidade do seu perfil nas redes sociais. No grupo dos mais velhos, 89% contra 69% consegue bloquear mensagens, 89% contra 62% sabe mudar as definições de privacidade do seu perfil nas redes sociais e 66% contra 51% bloquear pop-ups.
Quem usa um smartphone tem também um maior domínio de competências ligadas à comunicação, dizem os autores do relatório europeu. As diferenças são mais evidentes nos mais novos. No grupo dos 9 aos 12 anos, 64% das crianças que usam smartphone contra apenas 30% das que não usam são capazes de carregar imagens, vídeos ou músicas para as redes sociais. Nos mais velhos, as percentagens de inquiridos que dizem ter a mesma competência são de 92% para os utilizadores e 74% para os não utilizadores de smartphones.
A publicação de comentários em blogs, websites ou fóruns é algo que 54% dos utilizadores e 28% dos não utilizadores, entre os 9 e os 12 anos, sabe fazer. No grupo dos 13 aos 16 anos, são capazes de realizar a mesma atividade 85% dos utilizadores de smartphone e 63% dos não utilizadores. A maioria das crianças e dos jovens inquiridos sabe como proteger o telemóvel através da palavra-passe (88%), bem como desativar funções de que mostram a sua localização geográfica (63%).
Reunindo os dados sobre as atividades nas quais se envolvem e as competências mostradas pelos inquiridos os investigadores concluem que as crianças e os jovens que possuem smartphones têm uma progressão mais avançada na “escala de oportunidades” proporcionadas pelo mundo digital.
No dia 15 de novembro realiza-se a segunda edição do ciclo de conferências EDUTALKS sobre o tema “Telemóvel na sala de aula: sim ou não?” que terá lugar às 14h30, no Teatro Thalia, em Lisboa. Uma iniciativa do EDULOG - think tank da Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.