Estudos

Quem são os alunos que não entram no ensino superior?

por Andreia Lobo


9 de dezembro de 2019 |

Estudo do Centro de Investigação em Políticas do Ensino Superior (CIPES), apresentado na Conferência Internacional EDULOG 2019, mostra os fatores que condicionam o acesso dos estudantes a universidades e politécnicos públicos em Portugal.

A expansão do ensino superior não trouxe mais equidade no acesso. Há mais estudantes a ingressar nas universidades e politécnicos públicos, mas não o fazem todos com as mesmas condições. Ou seja, nem todos conseguem entrar em determinadas instituições ou cursos.

“Há seletividade não apenas referente ao tipo de instituição como também ao tipo de curso”, explica ao EDULOG Orlanda Tavares, co-autora do estudo “Candidaturas ao ensino superior português: quem fica de fora e quem entra?”, juntamente com Carla Sá e Cristina Sin, investigadoras do CIPES. O estudo teve por base uma amostra de 330 mil estudantes, todos os que se candidataram ao concurso nacional de acesso ao ensino superior entre 2012 e 2018.

O número de vagas disponíveis está muito perto do número de candidatos. Mesmo assim, contrapõe Cristina Sin, “ainda há candidatos que ficam de fora”. Os candidatos que ficam de fora são, obviamente, os que têm notas mais baixas. O estudo do CIPES conclui que nos últimos seis anos, os estudantes precisaram de ter uma média de acesso de, pelo menos, 14 valores para garantir a colocação.

Também ficam de fora os estudantes que escolhem cursos de áreas científicas que são mais seletivas. Como é o caso das ciências sociais, comércio, direito e medicina.

O estudo indica ainda “que, tendencialmente, os candidatos do Porto e de Lisboa ficam mais de fora do que os alunos das outras regiões do país”. Vejam-se os dados: entre 2012 e 2018, do total de alunos que não conseguiram entrar no ensino superior público, 33,9% eram do distrito de Lisboa e 26,1% do Porto, sendo a situação mais crítica neste distrito por ter menos população.

Desigualdades diferentes, respostas diferentes

Desigualdades de vária ordem vão requerer medidas políticas diversas, defendem as investigadoras. No caso das desigualdades por área de estudo “é possível que elas estejam a ser comandadas por uma procura adicional que se tem sentido na área das ciências sociais, negócios e direito, porque inclui a economia e a gestão”, explica Carla Sá, questionada pelo EDULOG.

“Não só em Portugal, mas ao nível internacional, tem-se sentido uma forte procura pelos cursos na área da gestão e essa tendência, obviamente, vai criar uma pressão maior na procura a esse nível. Portanto, as desigualdades podem estar ligadas, mas podem ter origens diferentes e vão merecer medidas políticas diferentes, se chegarmos à conclusão de que de facto têm de ser resolvidas”, conclui.

Com a intenção de ajudar a resolver algumas destas desigualdades, o estudo do CIPES faz algumas recomendações. No entanto, diz Carla Sá, “antes de propormos como medidas efetivas algumas dessas sugestões, estamos convencidas de que é necessário aprofundar estas questões”.

Nesta fase, as investigadoras identificaram os fatores que estão na origem das desigualdades, “agora é preciso perceber esses fatores em detalhe”. Vejam-se, a título de exemplo, os contornos da pressão na procura de vagas no ensino superior na área metropolitana do Porto.

“Claramente, no Porto há muitos alunos que ficam de fora, mas por várias razões. Podem ficar de fora porque querem ficar na área da residência, são imóveis, não têm possibilidade de suportar os custos de deslocação e ficam de fora. Mas também podem ficar de fora simplesmente porque não têm informação suficiente sobre as alternativas fora do Porto”, explica Carla Sá.

Mas as razões parecem não se esgotar aqui. Alguns estudantes podem simplesmente não conseguir entrar no ensino superior por não preencherem as seis alternativas que têm no formulário de candidatura. “O aluno fica de fora porque quer só aquele curso, naquela instituição e não coloca mais alternativa nenhuma. E, se o curso for seletivo, fica de fora, não porque é mau aluno, não porque é do Porto, mas porque escolheu aquele curso em particular”, acrescenta Orlanda Tavares.

Cada situação “vai implicar uma medida diferente”, conclui Carla Sá, avançando que o CIPES vai iniciar outro estudo para explorar com mais detalhe “todas essas razões”.

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