Políticas

Que dados fazem falta a escolas, famílias, autarquias e empregadores?

por EDULOG


12 de julho de 2017 |

Projeto financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo cria o Observatório EDULOG que reúne dados sobre o ensino básico, secundário e superior para várias audiências. O objetivo é sistematizar os números por detrás da realidade educativa.

Divulgar dados estatísticos sobre as escolas gera interesse pela educação. Disso, Carlinda Leite, investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), não tem dúvidas. Mais não fosse, veja-se a atenção dada pelos meios de comunicação aos indicadores sobre os exames nacionais, o abandono escolar, taxas de conclusão dos diferentes níveis de escolaridade e ao investimento em educação por relação ao PIB.

A lista de números, taxas e percentagens produzidos sobre Educação poderia ser mais longa. O interesse da sociedade dispara pelo universo da quantificação. As escolas são os principais coletores de informações sobre alunos, professores, agregados familiares. Dados inseridos em várias plataformas informáticas geridas pelo Ministério da Educação. Qual a sua utilidade? Servem para ajudar a tutela a definir as políticas educativas. Mas também podem ser úteis a outras audiências.

“Muitos professores e elementos de órgãos de gestão escolar referem ter imensos dados, mas dificuldades em utilizá-los para a tomada de decisões”, constata Carlinda Leite deixando, assim, antever parte do desafio colocado ao Observatório EDULOG, um projeto a cargo de cinco centros de investigação universitários de Braga, Porto e Aveiro, que visa facilitar o uso de estatísticas na área da Educação pelas comunidades escolares, mas também pelas famílias, autarquias, empresas e empregadores.

A necessidade de produzir informação quantitativa cresceu. Mas “é preciso construir uma leitura compreensível do que existe”, alerta Carlinda Leite, que coordenará umas das equipas que participam no projeto financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo. “Esperamos poder ajudar as escolas e a sociedade a conhecer cada vez melhor o que se está a passar na educação, a fazer comparações, a tomar decisões para prevenir problemas e a configurar novas intervenções.”

Professor, de que dados precisa?

Que números fazem falta aos professores? Carlos Teixeira e Anabela Grilo, diretores dos agrupamentos de escolas de Famalicão e Perafita, têm nas mãos uma lista dos indicadores que acreditam fazer “todo o sentido”. Com eles, estão certos que poderiam tomar decisões e “intervir melhor” nos problemas escolares com que se deparam no dia-a-dia.

Aproveitando um debate sobre a utilidade dos indicadores, promovido pelo Observatório EDULOG, os professores pediram indicadores que mostrassem qual o impacto da indisciplina no insucesso escolar, que percentagem de alunos com participações e medidas disciplinares que, ainda assim, passa de ano ou que clarificassem o impacto do absentismo no aproveitamento do aluno, ano após ano.

Acompanhados por vários colegas de outros agrupamentos, os diretores defenderam, no entanto, que “nem todas as estatísticas interessam a todas as escolas”. Em alternativa, gostariam de ter acesso a indicadores que fossem “mais ao encontro das especificidades regionais e locais”. “Talvez assim – especulam – se pudessem encontrar as respostas mais adequadas para os problemas de cada escola ou agrupamento.”

Identificar o que já existe, criar o que faz falta

Até agora, a equipa do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) da FPCEUP esteve a trabalhar para identificar grande parte da informação estatística que já existe sobre o ensino básico e secundário. Pelo menos doze fontes, nacionais e internacionais, foram identificadas. A Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, o Instituto Nacional de Estatísticas e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) são entidades que regularmente publicam bastantes dados. Relatórios e documentos que mostram, essencialmente, quais as características da população escolar, refere Carlinda Leite. Contam qual o número de alunos por nível de escolaridade, de professores por aluno ou de pessoal não docente nas escolas. Numa primeira radiografia, a equipa do CIIE concluiu que nestas compilações faltam dados. “Não são contempladas práticas curriculares e pedagógico-didáticas, nem a liderança”, aponta Carlinda Leite, acrescentando que relatórios internacionais como o PISA, de que tanto se tem falado em Portugal, “não contemplam as especificidades nacionais que provocam enviesamentos”, na leitura dos dados que difundem. E, por vezes, “acabam por comparar o que não é comparável”.

O Observatório EDULOG vai também reunir dados relativos ao ensino superior. A recolha será feita nos mesmos moldes da realizada para o ensino básico e secundário, mas vai estar a cargo do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES).

Caberá ao Núcleo de Investigação em Políticas Económicas (NIPE), da Universidade do Minho, criar indicadores que clarifiquem a influência do contexto – territorial e socioeconómico das famílias - no sistema educativo. E que ajudem a perceber a relação do sistema educativo com o mercado de trabalho. A Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOPP), da Universidade de Aveiro, ficará encarregada de reunir dados sobre o papel da educação no desenvolvimento das regiões.

Indicadores para outras audiências

Quando o trabalho de recolha e criação de indicadores estiver completo, os investigadores vão “pensar a forma de organizar e divulgar a informação”, explica Pedro Teixeira, diretor do CIPES e coordenador geral do Observatório EDULOG. A sistematização da informação e a sua disseminação através da Internet ficará a cargo do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESTEC) que criará também um sistema de monitorização de uma seleção de temas relevantes para o ensino. “Um dos desafios do projeto será pensar em indicadores para audiências diferentes”, sublinha Pedro Teixeira, explicando a dificuldade de responder às expectativas de utilização de dados dos diferentes atores educativos: “Temos uma discussão com professores que têm responsabilidades de coordenação e gestão para saber que indicadores lhes fazem falta. Mas se falarmos com professores, sem essas responsabilidades, não lhes serviriam apenas esses indicadores porque têm preocupações diferentes. Se alargarmos essa discussão a famílias, representantes de autarquias - que têm tido responsabilidades crescentes - empresas e empregadores, o desafio para o Observatório EDULOG será ainda maior.”

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