Análise

Quão difícil é a transição da escola para o trabalho?

por EDULOG


10 de janeiro de 2018 |

A maioria das pessoas começa a trabalhar entre os 20 e os 24 anos. A entrada no mercado de trabalho é dificultada pela baixa escolaridade. Contrariando o “ciclo normal” da vida escolar, 13% dos jovens dos países da OCDE entre os 15 e os 19 anos já deixaram os estudos. Destes, apenas 49% conseguiram emprego, 17% estão desempregados e 34% estão inativos, ou seja, não estão à procura de trabalho.

A transição da escola para o mercado de trabalho é mais difícil para quem não tem o ensino secundário. Que o digam os jovens, entre os 20 e os 24 anos, que saíram da escola sem completar o 12.º ano: 36% não estudam, nem trabalham e apenas 18% estão empregados. Esta é a realidade atual nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

“O problema está na falta de qualificação destas pessoas”, justifica a organização. A diferença de competências entre os jovens que continuam na escola e os que deixaram de estudar equivale a dois anos e seis meses adicionais de escolaridade. Estas e outras conclusões constam do relatório “Transition from school to work: How hard is it across different age groups?”, publicado pela OCDE, em agosto deste ano.

Segundo dados de 2015, nos 35 países da OCDE contavam-se cinco milhões de jovens que não estudavam, nem trabalhavam (NEET, na sigla inglesa) com idades entre os 15 e os 19 anos. O equivalente a 6% da população nessa faixa etária. Para a organização, os números mostram como “a transição da escola para o mercado de trabalho pode ser um período difícil para muitos jovens, frequentemente caracterizado por momentos de desemprego e contratos temporários”.

Ser um jovem NEET significa ter competências, adquiridas durante os anos de estudo, que não estão a ser usadas e, por isso, “podem deteriorar-se com o tempo se não são postas em prática na educação ou no emprego”, alerta a OCDE. Como resultado, “o investimento na educação dos jovens NEET não gera retorno”.

Na OCDE, 13% dos jovens dos 15 aos 19 anos deixou o ensino

Quem são os jovens que permanecem na escola? 90% dos portugueses com idades entre os 15 e os 19 anos continuam a estudar. A percentagem coloca Portugal ao lado da Alemanha, Bélgica, Holanda, países onde a obrigatoriedade de permanecer na escola também termina aos 18 anos. Em média, nos países da OCDE, são menos os alunos nesta faixa etária que ainda permanecem na escola, cerca de 87%. A percentagem é ainda menor em países como o Brasil, Colômbia, Costa Rica, Israel, México e Turquia: 74% ou menos.

A idade com que os jovens começam a trabalhar está relacionada com a duração da escolaridade obrigatória. Que, em Portugal, termina no 12.º ano. Tornar a escola obrigatória até um determinado ano de ensino é uma política educativa aplicada em todos os países da OCDE. Visa garantir que os alunos saiam da escola com um mínimo de competências para ingressar no mercado de trabalho.

Neste relatório, a OCDE compara a idade do fim da escolaridade obrigatória com a percentagem de jovens dos 15 aos 19 anos que continuam a estudar para aferir a eficácia desta política. Na Grécia, Coreia e Eslovénia, 90% dos jovens entre os 15 e os 19 anos permanece na escola, apesar de a escolaridade obrigatória terminar aos 14 anos, sendo esta a mais baixa entre os países estudados.

Pelo contrário, no Chile, onde os alunos só podem deixar a escola com 18 anos, a percentagem de jovens entre os 15 e os 19 que permanecem a estudar é de 81%, o que sugere elevadas taxas de abandono. Os indicadores também “são sinais que a escolaridade obrigatória, por si só, não garante que os jovens permaneçam mais anos no sistema educativo”, diz a OCDE, acrescentando que “para ser eficaz, a escolaridade obrigatória deve ser acompanhada por medidas que identifiquem e apoiem os alunos em risco de abandono”.

Menos escola, mais dificuldades para trabalhar

A baixa escolaridade é um bom preditor de dificuldades de inserção no mercado de trabalho. “Ter o ensino secundário é considerado, hoje, ser o mínimo de escolaridade para entrar com sucesso no mercado de trabalho e continuar empregado”, recorda a OCDE. Nos países membros da organização, 50% dos jovens entre os 15 e os 19 anos que não estão a estudar deixaram a escola sem acabar o secundário; a percentagem é de 23% na faixa etária dos 20-24 anos e de 18% na dos 25-29 anos, segundo dados de 2016.

Quem não termina o ensino secundário na idade considerada “normal” para o fazer, entre os 20 e os 24 anos, só consegue voltar à escola através de programas de segunda oportunidade, refere a OCDE. Em Portugal, entre os jovens de 20 aos 24 anos que não completaram o ensino secundário, 40% não estudam, nem trabalham e 30% não estudam e estão empregados.

Na transição da escola para o trabalho, os jovens enfrentam situações diferentes. Dos 13% de jovens com 15 a 19 anos que deixaram o sistema educativo, nos países da OCDE, apenas 49% conseguiram emprego, 17% estão desempregados e 34% são considerados inativos, por não estarem à procura de trabalho. Na mesma linha, dos 55% de jovens entre os 20 e os 24 anos que já não estão a estudar, 69% estão empregados, 14% estão desempregados e 17% inativos. Para aqueles que abandonam a escola, a OCDE diz ser essencial facilitar a sua reentrada na educação e na formação, como forma de combater o desemprego.

De volta à escola

Muitos países estão, de facto, a conseguir a encorajar os jovens com baixa escolaridade a permanecer na escola até concluírem o ensino secundário, ou a regressar ao sistema educativo depois de terem saído sem o diploma.

A taxa de participação em educação dos jovens entre os 15 e os 29 anos, sem o ensino secundário, aumentou em média de 64% para 70%, entre 2006 e 2015 nos países da OCDE. Subiu mais de 10% na Austrália, Grécia, Irlanda, Israel, Itália, Espanha, Turquia, Reino Unido e Portugal. Noutros países a taxa de participação permaneceu igual, caso da República Checa, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Hungria, Polónia, Eslovénia e Suécia; ou agravou-se, registando uma diminuição de 5% na Estónia e na República Eslovaca.

Por outro lado, a percentagem de jovens diplomados com o ensino secundário aumentou de 80% para 85% entre 2005 e 2014, nos países da OCDE, mostrando como era possível fazer com que os alunos ficassem no sistema até concluir a graduação.

Educação assegura o desenvolvimento de competências

Contratar pessoas com elevadas qualificações é uma garantia para os empregadores de ter mão-de-obra com boas competências. O estudo “Survey of Adult Skills” de 2013, que é um produto do Programa para a Avaliação Internacional das Competências dos Adultos da OCDE, mostra o quanto isso é verdade. Em todos os grupos etários avaliados - dos 16 aos 29 anos - os indivíduos que se encontram a estudar têm desempenhos médios nas áreas de literacia e numeracia de, pelo menos, 18 pontos acima dos que não estão a participar em programas educacionais.

Para a OCDE, esta evidência é “particularmente problemática” na faixa dos 16 aos 19 anos, pois são estes jovens que enfrentam os maiores desafios no mercado de trabalho. Quem está a estudar mostra competências em literacia e numeracia que equivalem a mais dois anos e meio de escolaridade por comparação aos que não estão.

Como se explica esta diferença? Os indivíduos mais qualificados permanecem mais tempo a estudar, enquanto os menos qualificados tendem a entrar no mercado de trabalho ou a tornar-se NEET, referem os peritos da OCDE. Mas a diferença ao nível de competências, entre quem ainda estuda e quem já deixou os estudos, lê-se no relatório, “também pode ser explicada pela rápida perda de competências quando estas não são postas em prática no emprego”.

Mesmo os jovens que conseguem emprego podem sentir dificuldade em transferir as competências adquiridas na escola para o exercício do seu trabalho. A OCDE recomenda, por isso, uma estreita cooperação entre escolas e empregadores, através da realização de estágios, programas de estudo e oportunidades de formação que ajudem os estudantes a conseguirem ter as competências certas para os empregos que pretendem.

Para os desempregados, a OCDE sugere mais assistência na procura de emprego como forma de combater a desmotivação. O mesmo para a população inativa, incluindo aqueles que deixaram de procurar trabalho por pensar que não existem oportunidades de emprego para si. A OCDE considera este grupo particularmente problemático: “Estas pessoas tendem a desaparecer dos radares das políticas educativas e sociais. É crucial identificar os diferentes grupos e fazer políticas à medida para os reorientar para a educação ou o mercado de trabalho de forma a combater a exclusão social”.

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