Análise
por EDULOG
25 de outubro de 2017 |
Os alunos portugueses são dos que mais liberdade têm para usar o telemóvel no recinto escolar. Dos 501 inquiridos, 79% disse aos investigadores que podia usar o telemóvel na escola, no entanto, 67% fá-lo com restrições e 12% livremente. Já 21% relatam que o uso deste dispositivo lhes é vedado. Só na Dinamarca o cenário é mais permissivo: 70% dos alunos afirmam poder usar os telemóveis na escola sem restrições. No extremo oposto, o uso de telemóveis no espaço escolar é interdito a 87% dos estudantes na Irlanda, 74% na Itália, 70% na Bélgica e 63% no Reino Unido.
O relatório “Net Children Go Mobile”, publicado em 2014, revela que a utilização de telemóveis, ou smartphones, nos estabelecimentos de ensino tende a estar regulado. Em todos os países que participam neste estudo, 54% dos alunos não estão autorizados a usar o seu smartphone na escola, 31% é livre de usar, mas com algumas restrições, apenas 15% tem liberdade total. A pesquisa envolveu entrevistas presenciais a 3500 crianças, entre os 9 e os 16 anos, em sete países europeus: Dinamarca, Itália, Roménia, Reino Unido, Irlanda, Bélgica e Portugal.
As comparações entre países mostram diferenças consideráveis no modo como os estabelecimentos de ensino lidam com a utilização destes dispositivos pelos alunos. Na Roménia, o terceiro país na lista dos mais permissivos, 58% dos alunos afirma poder usar o telemóvel, com restrições (46%) ou sem (12%). Na Irlanda, onde 87% dos alunos estão proibidos de usar telemóveis na escola, a utilização sem restrições é permitida a 13% dos alunos. Para os autores do estudo, Giovanna Mascheroni e Kjartan Ólafsson, “as diferenças [quanto à permissão ou proibição] entre países espelham também o modo como os professores integram a Internet e os telemóveis nas atividades de aprendizagem”.
Os professores atuam como mediadores da relação dos alunos com a Internet. Por um lado, orientam a navegação, por outro impõem restrições. Cabe a 61% dos professores a tarefa de estabelecer as regras sobre o que fazer na Internet, durante o período escolar. Mas pouco mais de 54% dos alunos diz ter ajuda do docente enquanto navega ou pesquisa informações.
De acordo com as crianças e jovens inquiridos, nos sete países, um em cada dois professores está envolvido em atividades de mediação do uso da Internet tendo em conta a segurança. O que dizem os docentes aos alunos? Explicam porque alguns sites são “bons” ou “maus” (56%), sugerem formas de utilização segura da Internet (56%) ou ensinam aos alunos a como se comportarem com os outros quando estão online (51%).
Identificando as atividades de mediação a que estão sujeitos, 49% dos alunos diz ainda que os professores falam com eles sobre o que fazem quando estão ligados, 40% sobre como atuar após uma experiência online negativa, mas apenas 23% diz obter ajuda do professor para lidar com uma situação perturbadora. Significa que muitos lidam sozinhos com este tipo de problemas. Sem aprofundar as razões para a aparente falta de apoio, os investigadores alertam: “Não podemos esquecer que as crianças e os jovens estão menos inclinados a falar com os professores sobre essas experiências.”
A mediação dos professores quanto ao uso da Internet aumenta com a idade dos alunos até atingir o máximo na adolescência: entre os 13 e os 14 anos. Mas volta a descer ligeiramente quando os alunos têm 15 e 16 anos. Ou seja, os mais velhos são menos supervisionados.
De modo geral, 69% dos alunos, dos sete países analisados, dizem que utilizam a Internet sob a mediação dos professores. Em Portugal, 70% dos alunos diz o mesmo. Olhando a realidade de cada país encontram-se diferenças consideráveis. Atuam como mediadores, em pelo menos dois tipos de atividades online realizadas pelos alunos, 89% dos professores na Irlanda, 80% no Reino Unido e 74% na Dinamarca, 65% na Bélgica, 62% na Roménia e 44% na Itália.
Em alguns países, como o Reino Unido e a Irlanda, quanto mais restrições existem na escola, tanto ao uso de wifi como ao de smartphones, mais os professores atuam como mediadores da relação dos alunos com a Internet. No entanto, alertam os autores do estudo, a relação entre regras e mediação não é sempre tão direta.
Permitir a utilização da Internet nas escolas não significa encorajar o uso não supervisionado. Os alunos dinamarqueses são os menos restringidos quanto ao acesso à Internet e aos telemóveis na escola, mas são os que mais reportam ser alvo de mediação por parte dos professores. Por outro lado, mais restrições não significam maior mediação: as crianças italianas são fortemente reguladas, no entanto, muito pouco mediadas.
“Além da mediação ativa da segurança das crianças na Internet, os professores podem também encorajar usos positivos da Internet, promovendo o seu uso, bem como o dos telemóveis em atividades de aprendizagem relacionadas com a escola”, lê-se no relatório “Net Children Go Mobile”. Com base nas respostas dadas pelas crianças e jovens, os investigadores mediram a frequência com que os professores incentivam os alunos a aceder à Internet para fazer pesquisas, para colaborar com outros estudantes e a usar o telemóvel na sala de aula.
% | Várias vezes ao longo do dia | Diariamente ou quase diariamente | Pelo menos uma vez por semana | Nunca ou quase nunca |
Usar a Internet para fazer pesquisas para os trabalhos da escola |
6 | 20 | 44 | 30 |
Colaborar com outros estudantes através da Internet | 3 | 10 | 24 | 63 |
Usar os telemóveis para fazer trabalhos nas aulas | 2 | 4 | 8 | 86 |
Com que frequência os professores encorajam os estudantes a usar a Internet e o telemóvel na escola, de acordo com os inquiridos
Dois em cada três alunos dizem ser encorajados pelos professores, pelo menos uma vez por semana, a usar a Internet em pesquisas para os trabalhos da escola. Apenas 26% diz que isto acontece todos os dias. Um em cada três alunos diz que é encorajado a colaborar com outros estudantes através da Internet pelo menos uma vez por semana. Menos frequente é os alunos serem encorajados a utilizar os telemóveis para trabalhar na sala de aula.
Olhando para a realidade dos sete países, percebe-se que tanto o uso de telemóveis na sala de aula, como a utilização da Internet em trabalho colaborativo são atividades pouco habituais na escola. Embora marginal, a utilização diária de telemóveis em atividades na sala de aula é “especialmente promovida” nos estabelecimentos de ensino da Dinamarca (13%) e da Roménia (9%). O uso da Internet em atividades na escola é “particularmente encorajado” no Reino Unido (40%) e na Dinamarca (34%).
Os alunos portugueses e romenos são os que mais se dizem encorajados a trabalhar de forma colaborativa com outros colegas usando a Internet (19% e 20%, respetivamente), estando acima da média dos sete países estudados (13%). A integração das novas tecnologias em atividades de aprendizagem na Bélgica, Irlanda e Itália é “bastante pobre”.
“As diferenças entre países estão enraizadas nas diferentes regras relativamente ao uso da Internet e dos smartphones nas escolas”, argumentam os investigadores, deixando antever a importância dos professores nesta matéria. No equilíbrio entre restrições e permissões, apenas uma certeza: há cada vez mais crianças e jovens com telemóveis nas mochilas.
% | Usar os telemóveis para fazer trabalhos nas aulas | Colaborar com outros estudantes através da Internet | Usar a Internet para fazer pesquisas para os trabalhos da escola |
Bélgica | 4 | 11 | 14 |
Dinamarca | 3 | 8 | 34 |
Irlanda | 1 | 6 | 20 |
Itália | 6 | 13 | 19 |
Portugal | 4 | 19 | 25 |
Roménia | 9 | 20 | 27 |
Reino Unido | 4 | 12 | 40 |
Todos | 6 | 13 | 26 |
Percentagem de alunos que usam diariamente a Internet e os telemóveis na escola, por país
No dia 15 de novembro realiza-se a segunda edição do ciclo de conferências EDUTALKS sobre o tema “Telemóvel na sala de aula: sim ou não?” que terá lugar às 14h30, no Teatro Thalia, em Lisboa. Uma iniciativa do EDULOG, think tank da Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.