Análise

OCDE mostra que a aplicação das TIC na sala de aula continua a ser um desafio

por EDULOG


17 de janeiro de 2017 |

Professores pedem mais formação para ensinar usando as tecnologias da informação e da comunicação. A aplicação das TIC na sala de aula continua a ser um desafio, diz a OCDE.

“Num mundo em que os alunos devem aprender a navegar em ambientes digitais complexos para ter sucesso no futuro, os professores desempenham um papel importante, que coloca elevada exigência nas suas habilidades e competências.” A advertência surge no relatório “Teachers’ ICT and problema-solving skills: Competencies and needs”, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em 2016. O documento reúne dados do TALIS 2013, uma Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem, e também do PIAAC 2012, sigla inglesa de Programa Internacional de Avaliação de Competências de Adultos.

Nos 34 países participantes no TALIS 2013, um estudo onde se inquirem professores e diretores sobre o ambiente de aprendizagem nas escolas, mais de metade dos docentes do 3.º ciclo admite que precisa de mais formação para utilizar as TIC na sala de aula. Apesar disso, os profissionais do setor da educação, docentes e não docentes, obtêm uma boa prestação na resolução de problemas que requerem navegação entre páginas da Internet e uso de aplicações, isto de acordo com a avaliação do PIAAC, que fornece um olhar geral sobre as competências dos adultos da OCDE.

Neste estudo é possível ver como os professores do ensino básico e secundário estão muito mais aptos a lidar com as tecnologias da informação e da comunicação que a população em geral. No entanto, o desempenho dos docentes neste domínio é três pontos percentuais abaixo do obtido por outros profissionais também licenciados. Em 13 dos 17 países com informação disponível, os professores do básico e do secundário mostram menos competências na área das TIC e na resolução de problemas que outros adultos diplomados. Apenas no Canada, Inglaterra, Irlanda do Norte, Japão e Coreia acontece o inverso: o desempenho dos professores supera o dos restantes adultos.

Estudos da OCDE têm mostrado, por diversas vezes, que os jovens apresentam mais competências para a utilização das TIC e para a resolução de problemas do que as pessoas mais velhas. O envelhecimento da classe docente poderá explicar por que os professores demostram menos competências quando comparados com os restantes adultos licenciados. Quando a idade é um fator tido em conta, a capacidade para usar as tecnologias e resolver problemas dos professores supera em quatro pontos percentuais a dos restantes licenciados. No Japão e na Coreia essa diferença é de 40 pontos percentuais.

Na Coreia, a maior competência da classe docente poderá ter uma explicação diferente: as escolas atraem profissionais altamente qualificados oferecendo aos professores do ensino básico e secundário elevados salários, quando comparados aos vencimentos praticados em outras profissões. Além disso, os professores, nestes países, poderão estar a ter mais oportunidades de obter formação em contexto de trabalho que os restantes licenciados.

Para a OCDE torna-se evidente que “a construção de competências dos professores é de vital importância para cumprir as promessas trazidas pela tecnologia”. Mas agora não se trata apenas ter mais conhecimentos para utilizar as TIC, dizem os peritos daquela organização internacional: “Num contexto de rápida mudança, os professores devem tornar-se agentes ativos, não apenas na implementação de inovações tecnológicas na educação, mas na sua criação.”

Professores pedem mais formação em TIC do que noutras áreas

Segundo o TALIS 2013, a utilização das TIC nas salas de aula varia consideravelmente entre os países. Na Dinamarca, por exemplo, 74% dos professores do 3.º ciclo dizem que seus alunos utilizam as tecnologias da informação e da comunicação em todas ou quase todas as aulas, seja para realizar trabalhos de projeto ou de turma; no Japão apenas 10% dos professores declaram semelhante utilização.

Garante a OCDE que “a pouca utilização das TIC na prática letiva pode estar relacionada com a falta de competências relevantes”. Quando questionados sobre o tipo de competências que lhes fazem falta para o seu desenvolvimento profissional, 59% dos professores do 3.º ciclo admitia aos investigadores do TALIS ter uma necessidade (moderada ou elevada) em adquirir competências TIC para o ensino.

Dito de outro modo, os professores acreditam precisar mais de formação para ensinar com as tecnologias do que para lidar com necessidades educativas especiais, tecnologias no local de trabalho, resolução de problemas, avaliação dos alunos, disciplina e gestão de sala de aula, currículo ou administração escolar. Em 34 países com dados disponíveis, exceto Japão e Israel, os professores estão mais disponíveis para fazer formação em TIC para o ensino do que no seu campo disciplinar.

Aplicar as TIC no ensino continua a ser um desafio

A OCDE reconhece ainda que a aplicação de competências TIC no ensino continua a ser um desafio. Dados de 2015 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), confirmam que a utilização de computadores na sala de aula, ainda que de forma limitada, pode ser melhor para os alunos do que a não utilização. Mas sugerem também que um uso mais intensivo, que o registado em média pela OCDE, tende a estar associado a resultados significativamente piores.

Porquê? A explicação poderá estar na necessidade de dar mais formação aos educadores no sentido de usarem a tecnologia para melhorar as suas metodologias de ensino, mantendo-se constantemente focados na aprendizagem dos alunos.

Por outro lado, “as ferramentas on-line podem ajudar os professores e dirigentes escolares a trocar ideias e boas práticas, criando redes de colaboração e inspirando-se uns aos outros, transformando o que costumava ser uma tarefa individual num processo colaborativo”, sugere a OCDE. Apesar dos cenários mais otimistas, os países nunca devem perder de vista algo importante, adverte a organização: “A tecnologia pode amplificar um ensino de qualidade, mas uma tecnologia de qualidade não pode substituir um ensino pobre.”

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