Análise
por EDULOG
12 de julho de 2019 |
Escolheram ser professores. Fizeram-no por querer contribuir para desenvolvimento social. Ensinar foi a primeira opção de carreira para 84% dos professores portugueses que participaram no TALIS 2018. A larga maioria, 93%, escolheu ser professor pela oportunidade que a profissão lhes dá de “contribuir para o desenvolvimento das crianças e da sociedade”. Numa profissão dominada, ainda, pelo género feminino, 74% dos membros da classe docente são mulheres (68% na OCDE) e 43% ocupam cargos de direção de escola (47% na OCDE).
Hoje, os professores dos nossos filhos terão, em média, 49 anos. Cinco anos mais velhos, por comparação à média de 44 anos, que os colegas dos restantes países. O problema, diz o TALIS, é que quase metade da classe docente portuguesa encontra-se acima dos 50 anos. Isto significa, lê-se no sumário dedicado a Portugal, “que será necessário renovar um em cada dois membros desta força de trabalho ao longo da próxima década”.
O EDULOG resume as conclusões do Teachers and School Leaders as Lifelong Learners, publicado em junho. Trata-se do primeiro volume do estudo de larga escala realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que, em Portugal, inquiriu 3 676 professores do 3.º ciclo e 200 diretores de escolas básicas e secundárias, do ensino público e privado.
O retrato feito pelo TALIS 2018 incluiu também o ambiente vivido nas escolas. Em Portugal, 97% dos docentes afirmam que, em geral, o relacionamento com os alunos é bom. Apenas 7% dos diretores de escola reportam a existência de atos de intimidação ou bullying entre alunos, uma percentagem bem mais baixa do que a da OCDE (14%).
A presença de alunos com origens fora de Portugal começa a evidenciar-se no sistema educativo: 14% dos professores (em média 17% na OCDE) lecionam em escolas onde pelo menos 10% dos alunos é migrante. Ao mesmo tempo, 96% dos diretores de escola referem que o seu corpo docente “acredita que as crianças e os jovens devem aprender que pessoas de culturas diferentes têm muito em comum”.
E o que acontece na sala de aula? Durante o período letivo, os professores portugueses gastam 74% do tempo a ensinar a matéria, o que é menos tempo do que a média da OCDE de 78%. O tempo passado pelos professores efetivamente a ensinar diminuiu nos últimos cinco a 10 anos em metade dos países e economias participantes no TALIS 2018. Portugal tem seguido esta tendência: nos últimos cinco anos, o tempo para ensinar e aprender decresceu em dois pontos percentuais.
Olhando outros dados, percebe-se melhor as implicações deste problema. Por exemplo, 85% dos professores portugueses que foram inquiridos constatam que parte do tempo de aula é usado “frequentemente para acalmar alunos que são disruptivos”, em média 65% responde o mesmo na OCDE. Por outro lado, 93% professores portugueses (84% na OCDE) referem que têm de explicar com frequência aos alunos como as novas matérias se relacionam com as anteriores.
Em matéria de avaliação, 90% dos professores avaliam de uma forma rotineira os progressos dos alunos, observando-os e dando-lhes um retorno imediato sobre o que sabem ou não. Ora, apenas 79% dos professores da OCDE fazem o mesmo. Por outro lado, 61% dos professores lusos dizem que deixam com frequência que sejam os alunos a fazer a sua auto-avaliação.
Questionados sobre a motivação e a capacidade da escola para implementar práticas inovadoras, uma vasta maioria de professores e diretores assume estar aberto a novas possibilidades. Em Portugal, 65% dos professores disseram aos investigadores do TALIS que tanto eles como os seus colegas docentes se apoiavam mutuamente para implementar novas ideias. A percentagem de respostas está, no entanto, abaixo da registada entre os professores dos países e economias da OCDE (78%).
Durante o período de formação inicial, os candidatos a professores aprendem conteúdos relacionados com a disciplina que vão lecionar, pedagogia e práticas de ensino em sala de aula. É assim para 75% dos professores em Portugal e para 79% dos professores na OCDE. E depois? A formação em contexto de escola é a mais comum.
Olhando para a formação contínua, 88% dos professores e 98% dos diretores de escola portugueses tinham frequentado pelo menos uma ação de desenvolvimento profissional no ano anterior ao da pesquisa, por comparação com 94% e 99%, respetivamente, na OCDE.
Cursos e seminários são as ações de desenvolvimento profissional mais populares para os professores da OCDE. Este é também o tipo de formação escolhido por 67% dos professores portugueses, enquanto 29% dizem participar em formação baseada na aprendizagem entre pares e na mentoria.
Voltando ao início da carreira, uma vez colocados nas escolas, apenas 22% dos professores com até cinco anos de experiência referem ter-lhes sido atribuído um mentor; em Portugal a percentagem fica-se pelos 14%.
Olhando para a formação dos diretores, o TALIS refere que, geralmente, têm níveis de formação superiores aos dos professores. No entanto, apenas metade deles concluiu um curso de preparação para o cargo de diretor antes de o exercer. Em Portugal, 58% dos diretores de escola têm formação em administração e gestão escolar (54% na OCDE) e 45% fizeram formação na área da liderança antes de desempenharem funções (54% na OCDE).
Em Portugal, adianta a OCDE, “os professores parecem satisfeitos com a formação que recebem, sendo que 82% revelam que esta formação teve um impacto positivo na sua prática letiva”. Ainda assim, existem áreas onde os professores reconhecem que é necessária mais formação: tecnologias da informação e comunicação, multiculturalidade e necessidades educativas especiais.
O TALIS 2018 engloba ainda um segundo volume, Teachers and School Leaders as Valued Professionals, com enfoque no prestígio, nas oportunidades de carreira, na cultura colaborativa, na responsabilidade e na autonomia. A publicação está prevista para o início de 2020.