Análise
por Andreia Lobo
26 de setembro de 2019 |
Olhamos para cinco dos mais conhecidos: Alemanha, Finlândia, França, Reino Unido e Japão. E cinco dos menos conhecidos: Austrália, Grécia, Israel, Itália e Luxemburgo. A recolha teve como principal fonte o Education at a Glance 2019, um relatório de referência sobre o estado da educação nos 36 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Grande parte da população tem o ensino secundário ou pós-secundário não superior como nível de escolaridade: 58% comparado com 44% da média da OCDE. Para os peritos do Education at a Glance 2019, a elevada percentagem de adultos com esta qualificação explica-se pelo “bem estabelecido sistema de ensino profissional” que se inicia ao nível do secundário.
Na Alemanha, 44% dos alunos que terminam o 12.º ano fazem-no na via profissional, na OCDE são 40%. Por outro lado, o ensino pós-secundário não superior apresenta-se como uma “opção clara e regulamentada” para os alunos provenientes do ensino profissional prosseguirem estudos, lê-se no sumário dedicado ao sistema educativo alemão. 90% dos alunos dos cursos profissionais seguem esta opção e obtêm o diploma aos 24 anos, muito antes dos colegas da OCDE, que o fazem apenas aos 31 anos. Apesar de reformas recentes, os alunos do pós-secundário profissional continuam a não fazer o caminho para o ensino superior.
73% das crianças inscritas na educação para a infância (zero aos três anos) e 65% dos que estão no pré-escolar frequentam instituições privadas, comparado com 47% e 34%, respetivamente, em média na OCDE. Apesar desta diferença, os gastos das instituições privadas com este nível de ensino são muito semelhantes aos da média da OCDE, cerca de 19%.
Para suportar o envolvimento em cuidados e educação para a infância, o governo federal providencia um orçamento extra para regiões e autoridades locais responsáveis pelo fornecimento destas valências. O financiamento de entidades privadas além do contributo das famílias é ainda maior na Alemanha do que noutros países. A Alemanha investe 14 723 euros por criança a frequentar os cuidados e educação para a infância, 34% mais do que os 10 999 investidos em média pelos países da OCDE; no pré-escolar, o investimento é de 9 197 euros por criança, comparado com 7 602 euros.
Para cumprir a meta nacional e ter 50% da população com curso universitário ou politécnico até 2030, a Finlândia tem de aumentar o número de diplomados em nove pontos percentuais em dez anos. A taxa de crescimento dos diplomados do ensino superior de 2008 a 2018 foi de 3%.
O relatório da OCDE refere que o ratio de pessoas altamente qualificadas entre os 25 e os 34 anos na Finlândia permanece em 41% abaixo da média entre grupos semelhantes na União Europeia e nos países da OCDE, onde, por exemplo, existem 44% de diplomados com cursos universitários.
O Ministério da Educação e Cultura justificou estas percentagens com o facto de na Finlândia o ingresso no ensino superior se fazer aos 24 anos, mais tarde do que na média nos países da OCDE, onde os alunos ingressam aos 22 anos.
O relatório da OCDE mostrou ainda que a Finlândia atualmente investe mais do seu orçamento de Estado no ensino superior (1,7% do PIB em 2016) do que investem em média os países da OCDE (1,5% do PIB). Por isso, na análise do Education at a Glance 2019, Jussi Kivistö, professor da Universidade de Tampere, citado pelo jornal News, afirmou que só doações privadas poderiam ajudar o país a melhorar a posição nas métricas da OCDE, uma vez que o investimento público já supera o dos restantes países.
Em França, o relatório da OCDE identificou um desequilíbrio entre a escola primária e a escola secundária. A primeira, onde se incluem três anos de pré-escolar e cinco anos de ensino primário, classificada como “o parente pobre do sistema educativo” francês, segundo a análise do jornal Le Point. A segunda, composta pelos colégios (do 6.° ao 9.° ano) e os liceus do (10.° ao 12.° ano) que, “sem serem os primeiros da classe", têm resultados que os colocam entre os melhores da OCDE.
O primeiro senão encontrado no ensino primário francês pelos peritos da OCDE diz respeito ao número de crianças por professor. Na faixa dos três aos cinco anos, o número de crianças por turma no jardim de infância permanece alto, com 23 alunos por educador, excedendo em sete crianças a média da OCDE. A diferença é atenuada do 1.° ao 5.° ano, com 24 alunos por turma em França, contra 21 na OCDE e do 6.° ao 9.° ano (25 contra 23).
Um segundo senão é o investimento anual por aluno. Em 2016, por aluno do 1.° ao 5 ° ano, era 11% inferior à média da OCDE (6 887 euros contra 7 703 euros), por aluno a frequentar o colégio era ligeiramente superior (9 606 euros contra 8 971 euros) e no liceu era bem mais elevado (12 777 euros, contra 9 424 euros).
Debate-se a existência de demasiados alunos no ensino superior. Questões como a empregabilidade estão na origem da questão. As diferenças salariais são grandes entre os estudantes com cursos superiores: salários elevados para quem se forma nas áreas da matemática e ciências, e baixos para os diplomados em artes e humanidades. Ora, esta diferença não impediu a abertura de mais vagas nas universidades nestas duas áreas do que noutras com grande procura como as engenharias, nota a OCDE.
Durante a apresentação do sumário da OCDE sobre o Reino Unido, o diretor para a educação da OCDE, Andreas Schleicher, constatou que o debate sobre demasiadas pessoas frequentarem o ensino sempre existiu. Mas assegurou que não há evidência de que nas economica modernas esteja a haver uma redução da procura de licenciados e de pessoas altamente qualificadas.
“Se tivéssemos esta discussão 100 anos atrás, teria havido pessoas a dizer que havia demasiados alunos a seguir para o ensino secundário”, argumentou Schleicher, citado pela BBC, alertando ainda: “Isto não significa que todos os alunos tenham de ir para a universidade, também é preciso um ensino profissional de elevada qualidade”.
Quase metade dos japoneses entre os 25 e os 64 anos frequentou o ensino superior em 2018. Mais 13 pontos percentuais do que a média de 39% da OCDE. A elevada taxa de participação no ensino superior deve-se, garante a organização internacional, aos ciclos de estudo de curta duração. Um terço dos alunos que em 2017 estavam pela primeira vez no ensino superior ingressou nesse tipo de programas (18 pontos percentuais acima da média da OCDE) e dois terços ingressou em licenciaturas (13 pontos percentuais abaixo da média).
No entanto, parece que só os jovens japoneses estão a beneficiar do ensino superior, diz o relatório. A média de idade entre os novos ingressos é de 18 anos nos ciclos de curta duração e nas licenciaturas, e de 19 anos nos mestrados, a mais jovem entre os países da OCDE.
A aprendizagem ao longo da vida é uma realidade menos prevalente no Japão do que nos restantes países. Em 2012, cerca de 40% da população entre os 25 e os 64 anos tinha participado em algum tipo de aprendizagem formal ou não formal, comparando por exemplo com os 50% da vizinha Coreia e os 59% nos Estados Unidos.
De acordo com o Education at a Glance 2019, a baixa participação ao nível da aprendizagem ao longo da vida poderá ser explicada por factores como constrangimentos económicos, limitada mais-valia no mercado de trabalho e baixos níveis de interesse e motivação.
Os estudantes internacionais no ensino superior australiano representam quase metade dos inscritos: 21% atendendo à média da OCDE de 6%, o que faz com que este nível de ensino esteja desproporcionalmente dependente, em termos de sobrevivência, do mercado estrangeiro, lê-se no jornal israelita The Age.
Os estudantes estrangeiros representam 14% dos inscritos em licenciaturas, 48% dos estudantes de mestrado e 32% dos de doutoramento. Percentagens que podem levar o país a sofrer uma “drenagem de cérebros” quando estes alunos regressarem aos seus países de origem, alertam especialistas em Educação.
Por outro lado, o relatório aponta ainda que os estudantes nacionais são menos propensos do que os colegas de outros países a tirar um mestrado ou um doutoramento. Cerca de 51% dos australianos, entre os 25 e os 34 anos, têm formação superior, quando comparado com a média de 44% da OCDE, mas apenas 10% prosseguem além da licenciatura, comparado com 15% na OCDE.
O investimento em educação por aluno do ensino primário ao secundário fica abaixo tanto da média da União Europeia como da OCDE. Assim, o investimento por aluno a frequentar o 1.º e 2.º ciclo será em média de 5 463 euros, e por aluno do 3.º ciclo e do ensino secundário de 6 191, ou seja, 60% e 70% do gasto médio nos países da OCDE. Em 2016, os gastos com a ensino não superior totalizaram menos de 3% do PIB.
Há cada vez mais alunos a ingressar no ensino superior. Com uma procura significativa na última década, a Grécia apresenta a quarta mais alta taxa de participação neste nível de ensino. Entre 2008 e 2018 a percentagem de jovens entre os 25 e os 34 anos com curso superior aumentou de 28% para 43%. Não será alheio o facto de a empregabilidade aumentar com a escolaridade. Apesar disso, os adultos com licenciatura ou mestrado têm mais dificuldades em arranjar trabalho do que os seus congéneres da OCDE.
O ensino superior é gratuito ao nível da licenciatura e do doutoramento. Na OCDE, para frequentar estes graus de ensino, os alunos pagam em média 2 458 euros e 2003 euros, respetivamente. Já a propina ao nível do mestrado tem um custo de 3 733 euros, bem mais dispendioso do que os 3 095 euros gastos em média entre os países da OCDE. De acordo com o relatório Education at a Glance 2019, estes valores podem ajudar a explicar porque apenas 4% dos adultos têm o mestrado como nível máximo de escolaridade, abaixo da média da OCDE de 13%.
O relatório da OCDE alerta que muitos dos países vão estar sob pressão no que diz respeito ao recrutamento e à formação de novos professores, uma vez que nos próximos dez anos uma larga percentagem de docentes entrará na idade da reforma. Contudo, o cenário em Israel é menos preocupante, porque a percentagem de professores com 50 ou mais anos atualmente é de 26%, bem abaixo da média de 36% da OCDE.
Desde 2005, os salários dos professores israelitas sofreram um forte aumento, em parte, por causa de uma reforma do sistema educativo. Aumentos na ordem dos 56% no pré-escolar, 40% no ensino primário, 52% no secundário inferior (equivalente ao 3.°ciclo em Portugal) e 50% no ensino secundário. Israel figura entre os países que mais investem na educação: o equivalente a 6% do PIB desde o ensino primário ao ensino superior. No entanto, o país gasta menos por aluno (8 095 euros) quando comparado com a maioria dos países da OCDE (9 562 euros).
Em dez anos a escola italiana perderá mais de um milhão de alunos e quase metade dos professores vão entrar na idade da reforma e terão de ser substituídos. O Education at a Glance 2019 revela que a Itália tem a maior percentagem de docentes com mais de 50 anos da OCDE (59%).
O relatório da OCDE revela ainda alguns indicadores onde o país não se sai bem. A começar pelo baixo investimento em educação. E passando pelo crescente número de jovens dos 18 aos 24 anos que nem estudam, nem trabalham (NEET): atinge os 26%, a terceira maior entre os países analisados, por comparação à média de 14% na OCDE.
Dados aprofundados mostram que 11% dos jovens entre os 15 e os 19 anos são NEET, mas a percentagem triplica na faixa dos 20 aos 24 anos, atingindo 29% para as mulheres e 28% para os homens, precisamente na idade em que se dá a transição do ensino superior para o mercado de trabalho.
O mestrado é o grau de qualificação mais frequente entre os adultos que têm o ensino superior no Luxemburgo: 22% dos adultos entre os 25 e os 64 anos, acima dos 13% da média da OCDE. Os detentores de mestrado ou doutoramento têm as melhores perspectivas de emprego. A taxa de emprego é oito pontos superior para quem tem um mestrado relativamente a quem tem uma licenciatura, o dobro da média da OCDE. Apesar de a Universidade do Luxemburgo ter sido criada em 2003, o ensino superior é bastante atrativo. Contam-se 22 alunos internacionais por cada 100 nacionais.
Os cursos profissionais são uma forte componente do ensino secundário e pós-secundário no sistema educativo luxemburguês: 60% dos alunos que completaram pela primeira vez o ensino secundário e 100% dos diplomados nos cursos pós-secundários não superiores obtinham uma qualificação profissional em 2017.
Ao contrário do que acontece em muitos países com elevados níveis de inscrições no ensino profissional (60% ou mais), poucos adultos se ficam apenas por este patamar. Na faixa dos 25 aos 34 anos, apenas 32% dos jovens têm o ensino secundário ou pós-secundário de escolaridade, comparado com os 41% da média da OCDE. Entre os países da OCDE, só o Luxemburgo e o Reino Unido combinam percentagens acima da média de diplomados em cursos profissionais de ensino secundário com percentagens abaixo da média de adultos cuja escolaridade máxima são o ensino secundário e pós-secundário não superior.