Políticas

Estudo EDULOG mostra que 49,5% das mulheres portuguesas não volta a estudar “por razões familiares”

por EDULOG


6 de março de 2017 |

Gostavam de voltar a estudar, por “enriquecimento pessoal”. A intenção não se concretiza por “falta de tempo e disponibilidade por razões familiares”. No Dia Internacional da Mulher, celebrado a 8 de março, revelamos alguns dados no feminino, mas pouco cor-de-rosa, do estudo “Que perceções têm os portugueses sobre o valor da educação?”

Gostavam de voltar a estudar, sobretudo por razões de “enriquecimento pessoal”. As mulheres, mais do que os homens, mostram vontade de continuar a estudar. No entanto, são elas quem menos têm a intenção de concretizar esse desejo. Ou seja: 50% dos homens e 60,4% das mulheres não pretende voltar a estudar. Em maior medida que os homens (49,5% face a 39,5%), as mulheres argumentam não continuar a estudar “por falta de tempo e disponibilidade por razões familiares".

“Os resultados não deixam de suscitar alguma curiosidade, sobretudo se tivermos em consideração que são as mulheres que exprimem um maior desejo de ter um grau de escolaridade mais elevado. A descoincidência entre o desejo de ter um grau de escolaridade mais elevado e a colocação em prática de estratégias para o conseguir é mais marcada entre as mulheres”, lê-se no estudo “Que perceções têm os portugueses sobre o valor da educação?”, desenvolvido pelo EDULOG - Think Tank da Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.

“Uma das razões que pode contribuir para este resultado pode relacionar-se com uma maior falta de disponibilidade das mulheres para continuarem ou voltarem a estudar, induzida pela ainda tendencialmente desigual divisão social das tarefas e responsabilidades familiares”, escrevem os investigadores.

“Outra razão pode prender-se com motivações laborais: as mulheres constituem um dos segmentos da população mais vulneráveis a situações de precaridade de emprego, desemprego, pobreza e/ou desvantajosas em termos socioeconómicos”, acrescentam os investigadores, garantindo que esta hipótese é confirmada pelos dados recolhidos. Entre os inquiridos, a proporção de mulheres com emprego é inferior à dos homens, ao passo que as mulheres surgem ainda, mais frequentemente que os homens, em situação de desemprego, de procura do primeiro emprego, ou de trabalho doméstico.

O estudo do EDULOG, o Think Tank da Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, mostra como entre mulheres e homens diferem as perceções sobre a importância atribuída à educação, a adequação de qualificações às exigências do mercado de trabalho e na relação parental com a escola. Os dados foram recolhidos através de 1201 entrevistas telefónicas realizadas a indivíduos de 18 ou mais anos, de ambos os sexos, residentes em Portugal continental e Ilhas, entre os dias 9 e 27 de março de 2016.

Aspirações educativas mais altas nas mulheres

As mulheres têm “aspirações educativas mais altas” do que os homens. Esta é outra das conclusões do estudo organizado por António Magalhães do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior e da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. “As mulheres que pretendem continuar a estudar têm aspirações mais elevadas do que os homens, nomeadamente no que refere ao mestrado e doutoramento. Se agruparmos a licenciatura, o mestrado e o doutoramento, verificamos que 70,9% das mulheres quer continuar os estudos até ao nível do ensino superior contra apenas 56,4% dos homens.”

Relativamente aos percursos escolares dos inquiridos por género, embora o grau de escolaridade mais frequente seja sempre o ensino básico, as mulheres têm menos frequentemente apenas este grau de escolaridade (31,3% face a 41,1% entre os homens). São elas quem mais vezes detêm um grau do ensino superior (24,1% face a 13,4%). Entre os inquiridos que seguiram a via profissional 32,7% são homens e 25% mulheres. “No entanto, são claramente as mulheres que mais frequentemente seguem os cursos de formação de adultos (15,6% face apenas a 5,5% no caso dos homens)”, escrevem os autores do estudo.

Há mais mulheres do que homens a conseguir um diploma, após um retorno à educação. A taxa de obtenção de um grau superior quando se volta a estudar, depois de um período de interrupção, é mais elevada entre as mulheres (93,3% face a 84,3% nos homens). O estudo mostra ainda que na escolha de cursos superiores, continuam a existir áreas tipicamente mais femininas. As mulheres seguem com mais frequência cursos relacionados com a Formação de Professores (15,3% face a 3,9%), com as Humanidades, Línguas e Artes (16,7% face a 9,1%). “Os homens optam, claramente mais pela Economia, Gestão, Direito, Finanças (35,1% face a 18,7% nas mulheres) e pela Engenharia (22,1% face a 8,7%)”, lê-se no estudo.

Mulheres identificam “excesso” de qualificações para o trabalho

Num mercado de trabalho caracterizado por qualificações baixas ou medianas, as mulheres, muito mais do que os homens, identificam o “excesso” de qualificações escolares em relação às exigidas pelo seu trabalho (62% para as mulheres e 38% para os homens). Segundo os investigadores, estas diferenças “sugerem que são as mulheres que menos percecionam verem reconhecidas as suas qualificações pelo mundo do trabalho”: “Este facto não poderá desligar-se dos fenómenos de feminização dos sistemas educativos já salientados pela investigação; isto é da tendência reconhecida para que hoje sejam as mulheres a desenvolver percursos mais longos de escolarização, apostando no valor desta tendência que se manifesta ao longo dos diferentes níveis de ensino, mas que não tem uma tradução em termos do mesmo grau de eficácia no mercado de trabalho”, lê-se no estudo.

Mães sentem-se menos preparadas para ajudar

Na relação da família com a escola, os investigadores perguntaram aos inquiridos que apoio escolar prestavam os inquiridos aos filhos menores de 15 anos. As respostas evidenciaram que “são sobretudo as mulheres que não se sentem preparadas para ajudar os filhos em casa”, escrevem os autores do estudo. Facto que surge ligado à formação de ambos os progenitores. “As mães estão claramente sub-representadas nos graus do ensino superior (3,5% para 9,5% dos pais). Com uma escolaridade menor do que a dos pais nos vários graus de ensino, só a posse do ensino secundário coloca as mães e os pais em circunstâncias idênticas de capital escolar no que se refere ao apoio à escola em casa”.

O estudo refere ainda que “independentemente do envolvimento dos inquiridos, como pais e mães, na vida escolar dos filhos, são as mães quem assegura, na qualidade de Encarregadas de Educação, a relação parental com a escola, nomeadamente nas reuniões”, correspondem a 87,4%, os pais a 35,3%.

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