Análise
por EDULOG
12 de fevereiro de 2018 |
Depois de ter avaliado a capacidade individual dos jovens de 15 anos para resolver problemas, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulga, agora, dados referentes a 2015, sobre a capacidade de resolver problemas de forma colaborativa, considerada pelos autores deste estudo uma “competência crítica” em contexto de sala de aula, mas também de trabalho. O volume V do PISA sobre Resolução Colaborativa de Problemas (RCP) reforça a importância do desenvolvimento das competências sociais, a par dos saberes académicos.
A RCP é a capacidade do indivíduo para se envolver num processo em que dois ou mais agentes tentam resolver um problema partilhando conhecimentos, mas também o esforço e a compreensão necessários para encontrar a solução. Como é que os alunos podem desenvolver relações pessoais mais fortes? Online, em casa, mas não através dos videojogos, dizem os peritos da OCDE.
De acordo com o relatório, os alunos que participam mais em atividades físicas, ou têm mais aulas de Educação Física por semana, desenvolvem atitudes mais positivas em relação ao trabalho em equipa. Pelo contrário, na avaliação à capacidade de resolução colaborativa de problemas, os jogadores de videojogos pontuam ligeiramente abaixo dos não jogadores. Já os alunos que acedem à Internet, chat ou redes sociais fora da escola pontuam igual ou melhor comparativamente aos que não o fazem. Quem colabora nas tarefas domésticas ou toma conta de outros membros da família, valoriza mais o trabalho em equipa e a relação com os outros, mostra o estudo.
Em Portugal, os alunos revelam dos índices mais elevados no que respeita à valorização das relações com os colegas e ao trabalho de equipa, mas os desempenhos na resolução colaborativa de problemas são inferiores aos registados em leitura, matemática e ciências. Com uma pontuação de 498 pontos, os portugueses integram um grupo de oito países – Noruega, Eslovénia, Bélgica, Islândia, República Checa, Espanha e China (províncias de Beijing, Shangai, Jiangsu e Guangdong) – cujos resultados não diferem da média de 500 pontos dos 32 países e economias parceiras da OCDE.
Quanto aos desempenhos, em média 28% dos alunos, em todos os países da OCDE, são apenas capazes de resolver problemas colaborativos simples. Há menos alunos com fracos desempenhos (cerca de 16,6%) na Estónia, Hong Kong (China), Japão, Coreia, Macau (China) e em Singapura. De facto, os estudantes de Singapura são os melhores, seguidos pelos colegas do Japão. Na OCDE, 8% dos alunos são considerados “top performers”, obtendo os melhores resultados na resolução colaborativa de problemas. Significa que “conseguem manter a dinâmica de grupo, garantir que os membros da equipa atuam de acordo com seus papéis acordados e resolver conflitos, ao mesmo tempo que identificam caminhos eficientes e acompanham o progresso em direção a uma solução”, lê-se no relatório. Em Portugal, mais de 20% dos alunos têm fraco desempenho, menos de 5% dos alunos atingem resultados de topo.
A OCDE constata que o desempenho na resolução colaborativa de problemas está positivamente relacionado ao desempenho nas principais áreas avaliadas pelo PISA (Ciência, Leitura e Matemática), mas a relação é mais fraca do que a observada entre esses outros domínios. Assim, se explica que os alunos na Austrália, Japão, Coreia, Nova Zelândia e Estados Unidos pontuem muito melhor em RCP do que seria de esperar com base nas pontuações obtidas nos testes de Ciência, Leitura e Matemática.
O desempenho das raparigas é significativamente melhor que o dos rapazes, em todos os países e economias que participaram na avaliação. Em média, elas pontuam mais 29 pontos que eles. As maiores diferenças de género – acima de 40 pontos – registam-se na Austrália, Finlândia, Letónia, Nova Zelândia e Suécia; as menores diferenças – menos de 10 pontos – são observadas na Colômbia, Costa Rica e Peru. Estes resultados contrastam com os obtidos na avaliação da resolução individual de problemas realizada no PISA 2012, em que os rapazes geralmente eram melhores que as raparigas
De acordo com a OCDE, os alunos mais carenciados ou a estudar em escolas localizadas em ambientes pobres têm desempenhos piores na resolução colaborativa de problemas. No entanto, a relação positiva entre o perfil socioeconómico dos alunos e das escolas e o desempenho em RCP é mais fraca do que a encontrada entre o perfil socioeconómico e o desempenho em ciência, leitura e matemática.
Em todos os países e economias da OCDE, os alunos têm, geralmente, atitudes positivas em relação à colaboração. Mais de 85% dos alunos concordam com as afirmações “sou um bom ouvinte”, “gosto de ver meus colegas de turma a serem bem-sucedidos”, “tenho em conta se os outros estão interessados”, “gosto de considerar diferentes perspetivas” e “gosto de colaborar com os meus colegas”.
As raparigas tendem a valorizar a relação com os outros mais do que os rapazes: concordam mais vezes do que os rapazes que sabem ouvir as outras pessoas, que gostam que os colegas sejam bem sucedidos e que tomam em consideração diferentes pontos de vista. Já os rapazes têm tendência para valorizar mais o trabalho em equipa do que as raparigas. Ou seja, concordam mais vezes do que as raparigas que preferem trabalhar como parte de uma equipa em vez de trabalhar sozinhos, acham que as equipas tomam melhores decisões do que indivíduos e que o trabalho em conjunto eleva sua própria eficiência.
Os alunos mais favorecidos tendem a valorizar as relações mais do que os alunos desfavorecidos, enquanto estes valorizam mais o trabalho em equipa do que os outros. “Talvez porque valorizem mais o impulso extra que o trabalho em equipa pode trazer à sua própria performance”, explicam os autores do relatório.
A qualidade dos ambientes educativos nas escolas é outra das variáveis que influencia as atitudes dos alunos face à colaboração, refere ainda a OCDE. Neste ponto, o relatório anuncia boas e más notícias. Muitos alunos, professores e diretores garantem ter “bom ambiente” nas suas escolas. Por outro lado, na avaliação feita ao “bem-estar” dos jovens surgem muitos relatos de alunos que afirmam se sentirem isolados na escola, vítimas de bullying e tratados injustamente pelos seus professores. Resta saber se a escola será também capaz de resolver estes problemas de forma colaborativa.