Estudos

Condições das famílias portuguesas influenciam resultados escolares

por EDULOG


4 de novembro de 2016 |

Estudo do Ministério da Educação mostra que as condições económicas das famílias e a escolaridade das mães são preditores do sucesso académico dos alunos. Mas há fatores que podem contrariar esta relação. Depois de uma análise realizada aos alunos no 3.º ciclo do ensino público, publicada em fevereiro, são agora apresentadas as conclusões relativas aos dados recolhidos no 2.º ciclo.

O estudo “Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares II”, conduzido pela Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEE), mostra que os alunos do 2.º ciclo oriundos de famílias com baixos rendimentos e cujas mães têm menores qualificações apresentam taxas de sucesso escolar mais baixas. A análise relacionou os resultados académicos dos alunos com os níveis de escolaridade das suas mães e a condição económica familiar, apurada através do escalão da Ação Social Escolar (ASE). Assim, fica provada a existência de uma forte relação entre o desempenho na escola e as condições sociais e económicas das famílias.

Por exemplo, entre os alunos do 2.º ciclo cujas mães têm licenciatura ou bacharelato, 80% apresenta “percursos de sucesso”, ou seja, tendo positiva nas provas finais de Português e Matemática do 6.º ano em 2014/2015 e zero retenções até ao 5.º ano. Entre os alunos cujas mães têm habilitação escolar mais baixa, equivalente ao 4.º ano, a mesma percentagem de percursos de sucesso é de apenas 26%.

Quanto à relação entre os desempenhos escolares e a situação económica dos agregados familiares, medida através dos níveis de apoio da ASE, os dados mostram que entre os alunos que não recebem qualquer apoio, 63% apresentam percursos de sucesso no 2.º ciclo. Entre os alunos provenientes dos agregados familiares mais modestos, portanto, beneficiários do escalão A - o maior apoio - apenas 27% mostra percursos de sucesso. Estas são “disparidades muito acentuadas”, diz o Ministério da Educação (ME), que mostram que “as condições socioeconómicas das famílias têm um impacto elevado nos resultados dos alunos, porventura maior que o desejável”.

No entanto, apesar da evidência que no total nacional o sucesso escolar está condicionado por fatores de ordem familiar, “persiste uma variação regional e local nos resultados apresentados, sendo detetáveis assimetrias entre distritos e conjuntos de escolas”, diz o estudo. Facto que demonstra ser possível inverter os cenários de insucesso. “Para os mesmos níveis de rendimentos dos agregados e de qualificações das mães, é possível encontrar taxas de sucesso mais elevadas em alguns distritos e conjuntos de escolas.”

Prova disso, a observação que os alunos de regiões com indicadores socioeconómicos desfavoráveis, como Braga ou Viseu, têm, apesar disso, desempenhos francamente superiores à média nacional. Em média, os alunos bracarenses cujas mães têm o 6.º ano alcançam um desempenho escolar no 2.º ciclo superior aos alunos do distrito de Setúbal cujas mães têm o 12.º ano completo.

“Os desempenhos escolares dos alunos não são homogéneos no território nacional”, conclui o estudo dando alguns exemplos da existência de “acentuadas assimetrias regionais”. Caso do distrito de Coimbra, onde a percentagem de percursos de sucesso no 2.º ciclo foi de 60%, enquanto que em Setúbal foi de 43%. Um resultado “especialmente notável” já que Setúbal é o distrito do país onde o nível de escolaridade das mães é mais elevado. No extremo oposto, surgem distritos como Viana do Castelo ou Braga, que registam percursos de sucesso altos, relativamente à média nacional, apesar do nível de escolaridade das mães ser dos mais baixos do país.

Tal como sucedeu na análise realizada aos alunos do 3.º ciclo, o ME conclui que mais uma vez há evidência que outros fatores influenciam o sucesso escolar dos alunos. “Fatores esses que interessa explorar, e que contrariam a relação causa/efeito entre o contexto socioeconómico e o sucesso escolar dos alunos, genericamente comprovado”, lê-se no estudo.

“Sabendo que o sucesso escolar é condicionado por fatores externos, o papel da Escola é crucial”, sublinha a tutela. Assim como “a colaboração e responsabilidade da comunidade, a nível local e regional, são essenciais à construção do sucesso escolar e ao compromisso com o ensino e a valorização da aprendizagem”.

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