Análise

Como se ensina a matemática?

por EDULOG


23 de janeiro de 2019 |

Explicam as metas de aprendizagem, põem os alunos a resolver exercícios até compreenderem os problemas e sumarizam os conteúdos. É assim que quase todos os professores ensinam matemática.

A qualidade do ensino depende do modo como os professores ensinam na sala de aula. Olhando em particular para os professores de matemática, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) quis saber dos próprios que estratégias utilizam para ensinar. Às opiniões de quem ensina, os autores do estudo somaram as de quem aprende. O resultado: 97% dos professores de matemática respondem que ensinam de forma clara e estruturada. Os alunos fazem exercícios parecidos até compreenderem a matéria.

O estudo cruza informações recolhidas durante o TALIS 2013 [Teaching and Learning International Survey] e o PISA 2012 [Programme for International Survey Assessment]. O resultado “foi um quadro rico e complexo sobre o que se passa nas salas de aulas”, realça a OCDE. Oito países participaram neste inquérito: Austrália, Finlândia, Letónia, México, Roménia, Singapura, Espanha e Portugal. Foram selecionadas amostras representativas de docentes e alunos de 150 escolas por cada país, um diretor de escola e 20 professores por cada escola. Dentro do corpo docente, os professores de matemática fizeram um questionário adicional.

Aulas estruturadas

Através das repostas de alunos e professores, os investigadores da OCDE identificaram três estratégias de ensino da matemática.

Na primeira, os professores utilizam práticas de estruturação. Significa que a lição é dada de forma clara e ordenada. O professor explica as metas de aprendizagem na aula, os alunos fazem exercícios até compreenderem a matéria e, depois, é-lhes apresentado um resumo dos conteúdos da aula.

A segunda estratégia está centrada no aluno. Os alunos trabalham em grupos pequenos para encontrar solução para um problema ou realizar uma tarefa. O professor pode atribuir problemas ou tarefas diferentes aos alunos, distinguindo os que têm mais dificuldades dos que estão “mais à vontade” com a matéria.

A terceira estratégia usada para ensinar a matemática recorre a atividades de ensino “melhoradas”. Os alunos podem trabalhar durante uma semana num projeto específico. Mas espera-se que sejam capazes de explicar os raciocínios usados na resolução de problemas complexos. Os professores encorajam os alunos a encontrar mais do que uma forma de resolver os problemas.

Depois de identificar as principais estratégias de ensino, os investigadores quiseram saber quais as mais usadas nos oito países participantes. Das três, as práticas de estruturação são a estratégia mais reportada, quer por professores, quer por alunos. Cerca de 97% dos professores respondem que lecionam de forma clara e estruturada. Explicam as metas de aprendizagem, deixam os alunos praticar até compreenderem a matéria e, depois, apresentam um sumário do conteúdo lecionado.

Muitos dos professores dizem recorrer a atividades de ensino “melhoradas”. Em particular, para encorajar os alunos a descobrir mais do que uma forma para resolver um problema (99%), na expectativa de os alunos serem capazes de explicar os raciocínios usados na resolução de problemas complexos (97%) e também para fazer com que os alunos trabalhem em projetos semanais (64%).

Das três estratégias, a menos usada é a que coloca o aluno no centro da aprendizagem. Isto se olharmos para as respostas dos alunos: 60% referem que os professores lhes atribuem tarefas diferentes de acordo com o seu grau de compreensão da matéria e que trabalham em grupo. No entanto, cerca de 90% dos professores dizem recorrer a esta estratégia.

Estratégias universais

Algumas estratégias de ensino parecem ser universais, no entanto existem diferenças no modo como os professores dos diferentes países ensinam, conclui a OCDE. Quase todos os professores de matemática utilizam práticas de estruturação na sala de aula, seja qual for o país onde ensinam. Mas dependendo do país, entre 98% a 100% dos professores dizem que “clarificam explicitamente” as metas de aprendizagem.

Os investigadores da OCDE encontram mais diferenças na forma como os professores dos vários países utilizam a estratégia centrada no aluno. Quem põe os alunos a trabalhar em grupos pequenos? Apenas um exemplo: 78% dos professores na Finlândia e quase 100% no México. Entre os professores que recorrem às atividades “melhoradas”, 20% dos professores finlandeses e 86% dos professores mexicanos afirmam que os seus alunos trabalham em projetos de uma semana.

As respostas dadas aos investigadores pelos alunos confirmam as informações recolhidas entre os docentes de matemática. Quase todos os professores ensinam da mesma maneira: usando práticas de estruturação, em que o professor clarifica as metas de aprendizagem e dá aos alunos exercícios para resolver até que estes compreendam a matéria.

Os investigadores da OCDE acreditam que esta estratégia de ensino possa ser vista pelos professores como a base necessária para o desenvolvimento de qualquer outra estratégia de ensino. “No entanto, o tempo de instrução na sala de aula é um recurso escasso e um foco excessivo nas práticas de estruturação pode limitar o uso de estratégias de ensino mais inovadoras”, conclui a OCDE.

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