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LER, uma nova plataforma para educadores e professores

por EDULOG


23 de setembro de 2020 |

Preparar, aprender, desenvolver e reforçar a aprendizagem da leitura e da escrita

A importância de disseminar conhecimento científico na área da aprendizagem da leitura e da escrita é ponto assente para a equipa da plataforma LER - Leitura e Escrita: Recursos, iniciativa do Plano Nacional de Leitura 2027 em parceria com o EDULOG - Fundação Belmiro de Azevedo. Na apresentação pública, os investigadores responsáveis pelos conteúdos e recursos expuseram evidências sobre como se ensina e aprende a ler e a escrever.

É contagiante o entusiasmo de Isabel Alçada, escritora e ex-comissária do Plano Nacional de Leitura, ao falar sobre a importância de proporcionar às crianças o contacto com os livros “desde a primeiríssima infância”. A membro do conselho consultivo do EDULOG foi uma das oradoras que ontem estiveram na apresentação pública online da plataforma LER - Leitura e Escrita: Recursos. Marcaram ainda presença, João Costa, secretário de Estado Adjunto e da Educação, Isabel Leite, membro do conselho consultivo do EDULOG e consultora da plataforma LER, e Teresa Calçada, comissária do Plano Nacional de Leitura 2027.

O objetivo da plataforma LER é ser um instrumento útil para educadores e professores, esclareceu Isabel Leite, membro do conselho consultivo do EDULOG, a quem coube a apresentação das funcionalidades e recursos. “Escolhemos divulgar descobertas sólidas que reúnem já consenso científico. Mas sempre que surgirem novas descobertas, os conteúdos serão atualizados”, assume a também consultora da plataforma.

A importância da identificação e do apoio às dificuldades da leitura foi a tónica da intervenção de João Costa. “Continuamos a ter muitos alunos que chegam ao final do 2.º ano e ainda não estão a ler fluentemente e isso é claramente um inibidor de grande parte do seu percurso [escolar] daí para a frente.” O secretário de Estado disse ainda que nos primeiros anos de escolaridade não é possível fazer o “jogo do passa culpas”, em que se culpam os docentes do ano anterior pelas dificuldades dos alunos no atual. “É responsabilidade de todos contribuir para acabar com este atraso.”

Teresa Calçada manifestou o desejo de que a plataforma LER possa ser “útil e funcional” e contribuir para identificar as metodologias de ensino da leitura e escrita que estão corretas e que contribuem para uma melhoria de resultados desejada por todos. “Ler e escrever é, antes de tudo, um direito humano e, como tal, não podemos deixar de lutar sempre para desenvolver em todos nós, e nas crianças em particular, as competências necessárias a poder-se dizer que este direito é funcional e real”, frisou a comissária do Plano Nacional de Leitura 2027.

O coordenador científico da plataforma LER, José Morais, sublinhou a importância da literacia no combate à desinformação e na defesa da democracia, num discurso lido pela jornalista Bárbara Wong que mediou as intervenções. Ao mesmo tempo, lamentou que, de acordo com o PISA, apenas metade dos adolescentes de 15 anos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) consiga atingir níveis de literacia crítica. “Devemos encorajar os aprendizes de literacia a ir além da compreensão.” Quanto ao conhecimento científico - sobre a aprendizagem da leitura e da escrita - reunido na plataforma LER, o professor da Universidade Livre de Bruxelas garante que “comunica o que sabemos, mas deverá ser revisto” sempre que a ciência nesta área evoluir.

Até agora, o que diz a ciência sobre a leitura e a escrita? A equipa de investigadores nas áreas da educação e da psicolinguística da plataforma LER respondeu. Ana Paula Vale, da Universidade de Trás-os-Montes, lembrou que é importante ensinar explicitamente a leitura e a escrita através de métodos fónicos sistemáticos, seguindo as recomendações da evidência científica nesta matéria. “Aprender a ler e a escrever implica o tratamento das palavras atendendo aos componentes fonéticos e não à memorização.” São Luís Castro, da Universidade do Porto, realçou a importância da transição da fase inicial da aprendizagem da leitura para a fase da leitura consolidada. Lembrou o papel da leitura ao nível do conhecimento, mas também do pensamento crítico.

Leitura e compreensão são, precisamente, ferramentas indispensáveis ao pensamento, refletiu Fernanda Leopoldina Viana, da Universidade do Minho. “Queremos que os alunos aprendam que em função dos objetivos de leitura devem convocar as estratégias mais adequadas. Um bom leitor também sabe quando não compreende e invoca as estratégias adequadas para superar as dificuldades.” A investigadora explicou que existem vários níveis de compreensão que têm de ser explicitamente ensinados. Mas alertou que “o nível de processamento de texto depende de conhecimentos prévios que dependem das experiências de vida”.

A inclusão de temas ligados à escrita na plataforma LER recebeu os elogios do investigador Rui Alves, da Universidade do Porto, já que constata que a escrita é às vezes um pouco esquecida nas questões relacionadas com a leitura. “É importante dar essa visibilidade à escrita no desenvolvimento da literacia porque a escrita representa uma face produtiva da linguagem e nunca foi tão fácil como hoje sermos apenas consumidores." Rui Alves insistiu ainda na necessidade de, através da escrita, tornar as crianças produtoras de conteúdos e não só consumidoras e de “permitir que encontrem a sua voz”.

Alexandra Reis, da Universidade do Algarve, lembrou que 20% dos alunos portugueses têm dificuldades no domínio da leitura, 5% dos quais devido a problemas de dislexia.” Quanto mais precoce for o diagnóstico - antes do ensino formal da leitura - mais será possível prevenir ou atenuar o risco de desenvolvimento de dificuldades de leitura e escrita.” Ora, a mais-valia da plataforma LER, garante a investigadora, é a de identificar alguns sinais de alerta para o risco de dificuldades no pré-escolar e 1.° ciclo, permitindo, assim, a educadores e professores saber como atuar nessas situações.

O desejo de Isabel Leite, agora, é que professores e educadores encontrem na plataforma respostas às suas dúvidas”. No futuro, a membro do conselho científico do EDULOG não esconde a ambição de ver a plataforma alargada a outros públicos, nomeadamente aos pais.

A apresentação pública da plataforma poderá ser revista aqui.

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